A indústria da moda é formada por uma das cadeias produtivas mais fragmentadas da economia brasileira.

Estima-se que existam mais de 1,5 milhão de varejistas no setor – a maioria pequenos lojistas e marcas –, além de milhares de fabricantes de roupas, calçados e acessórios espalhados País afora. Isso, sem contar milhões de costureiras, costureiros, rendeiros e rendeiras que tiram o sustento de trabalhos artesanais.

“É justamente nessa fragmentação que reside o maior desafio de digitalizar o setor e, ao mesmo tempo, uma enorme oportunidade de ganhar eficiência e desenvolver o mercado”, diz Silvia Machado, diretora executiva de Moda e Beleza do Magalu.

A vertical de moda da empresa apresenta um dos crescimentos mais acelerados entre as categorias de produtos oferecidas.  No ano passado, o Mundo Moda – como a vertical é chamada – cresceu mais de 170%. Atualmente, o Magalu vende roupas, sapatos e acessórios de mais de 30.000 sellers, conectados à sua plataforma digital. Nesse universo, estão marcas como Calvin Klein, Hering, Colcci e Santa Lolla, mas também algumas ainda pouco conhecidas, como a Catarina Mina, criada por uma empreendedora do Ceará.

A marca faz parte de um grupo de 18 empresas nordestinas, incluídas recentemente no aplicativo Magalu sob o guarda-chuva Nordestesse, uma plataforma de conteúdo que faz a curadoria e promoção de produtos da região. “A beleza do e-commerce é que ele abre lugar para todo mundo: desde um produto feito em escala, que carrega uma marca conhecida mundialmente, até um item feito à mão, sob encomenda”, afirma Silvia.

Para entender o potencial de transformação que o comércio eletrônico tem no ramo da moda, vale conhecer a história de duas mulheres, ambas do Ceará.

Celina Hissa, de 38 anos, é empresária, formada em publicidade, nascida em uma família de classe média alta de Fortaleza.

Francisca Aldenice Felix, de 62 anos, é nascida em Várzea Alegre, na região do Cariri. De família humilde, trabalhou desde a infância na lavoura, o que lhe rendeu a aposentadoria de um salário mínimo.

Em 2015, Celina enfrentava a concorrência com produtos da China, vendidos por uma fração do preço das bolsas artesanais produzidas por sua empresa, a Catarina Mina. Ela sabia que não conseguiria bater o preço dos chineses, mas acreditava que havia um público que reconheceria o valor de suas peças, produzidas com técnicas ancestrais carregadas de história. Se conseguisse mostrar como as bolsas são feitas – a história por trás de cada peça e os custos de cada produto, da matéria-prima aos gastos com logística, passando pelo trabalho de cada artesã ou artesão – encontraria seus clientes.

Aldenice, por sua vez, fez crochê a vida inteira para complementar a renda da família. Como a renda com artesanato era baixa e incerta, o trabalho na agricultura permaneceu como a principal fonte de sustento. As franjas de rede que Aldenice confeccionava raramente somavam um salário mínimo por mês. “Nossa maior dificuldade sempre foi vender, conseguir preço. As pessoas não valorizavam muito nosso trabalho, talvez, porque todo mundo fazia tudo igual ou parecido”, diz Aldenice.

Atualmente, a Catarina Mina, de Celina, vende bolsas produzidas por cerca de 300 artesãs (Aldenice é uma delas). Em 2021, as vendas da empresa cresceram 45% sobre o ano anterior. No caso de Aldenice, a renda com o crochê agora é regular e maior do que a da roça. Ela ganha cerca de dois salários mínimos como microempresária individual, confeccionando bolsas para a empresa de Celina e coordenando um grupo de cerca de 30 rendeiras em Itaitinga, onde vive, na região metropolitana de Fortaleza. 

Sem a internet, Celina não conseguiria colocar sua estratégia em prática e as artesãs, como Aldenice, dificilmente conseguiriam trabalhar com a regularidade e o salário atuais. “As plataformas digitais do Nordestesse e do Magalu são conexões que permitem levar nosso trabalho mais longe, chegar a pessoas que se identificam com os nossos produtos e com nossos valores”, diz Celina.

Outro avanço do Magalu no ramo da moda foi o lançamento de sua marca própria, batizada de Vista Magalu, em outubro do ano passado, com posicionamento inclusivo e diverso, refletido em seus produtos que possuem uma grade extensa, desde o PP até o G5. A marca mistura uma oferta perene de itens básicos a mini-coleções mensais que trazem as principais novidades capturadas pela equipe de estilo, comandada por Aneliza Paiva, diretora de estilo de marcas próprias da companhia. Antes do Magalu, a executiva passou pela Zara, Arezzo e Riachuelo.

A indústria – ou seja, a confecção de vestuário, acessórios e as fábricas de calçados – é outra etapa na cadeia produtiva da moda em que o Magalu vem avançando. Hoje, mais de 300 fabricantes de diferentes polos fabris do Brasil vendem seus produtos diretamente ao consumidor final pelas plataformas digitais da empresa (SuperApp e site). A criação da loja virtual das fábricas e a integração com o marketplace Magalu é feito pela HubSales, empresa adquirida pela companhia em 2020. A estratégia de atuação da HubSales passa pela digitalização de polos fabris, como o de Birigui, no interior de São Paulo, especializado em calçados infantis, ou o de  Blumenau, em Santa Catarina, de confecção de malha, além de cama, mesa e banho. 

Atualmente, o marketplace Magalu conta com lojas de indústrias de São Paulo (Franca, Birigui e Ibitinga), Rio Grande do Sul (Novo Hamburgo), Santa Catarina (São João Batista, Brusque, Gaspar e Blumenau), Minas Gerais (Nova Serrana), Goiás (Goiânia) e Ceará (Fortaleza). “Nossa estratégia de negócio e nosso propósito é digitalizar o setor da moda, o que passa não só pelo varejo, mas também pela indústria”, diz Silvia. 

Segundo a executiva, a atuação nos pilares do varejo e da indústria deve gerar sinergias importantes para o Magalu. Um exemplo aconteceu na última Black Friday, em outubro, quando o chinelo Nuvem se tornou o item mais vendido pela empresa durante o final de semana de ofertas. O modelo foi lançado pela fábrica Valentina K por sugestão da equipe de estilo do Magalu, que se inspirou em um calçado levíssimo e super confortável que vinha fazendo sucesso no exterior.

Siga o Brazil Journal no Instagram

Seguir