Quando eu tinha pouco mais de 32 anos, em 2013, vivi o momento mais difícil da minha vida. Depois de meses trabalhando sem parar em um dos maiores grupos de comunicação do País, acumulando funções e responsabilidades em um ritmo que parecia não ter fim, meu corpo desligou.
Eu travei. Literalmente.
Não conseguia falar, pensar ou me mover. Fui parar no hospital com um diagnóstico que mudaria completamente a forma como eu enxergo o trabalho, o sucesso e a vida: burnout.
Na época, eu ainda achava bonito dizer que era “workaholic”. Acreditava que dar conta de tudo era sinônimo de força, e que produtividade era equivalente a valor. Mas o corpo tem um jeito silencioso e preciso de cobrar o que a mente insiste em ignorar.
Alguns anos depois, em 2018, aos 37 anos, quando pensei que tinha aprendido a lição, o segundo esgotamento veio ainda mais forte. Na carreira, integrava o time comercial de uma empresa de cenografia.
Dessa vez, o burnout veio na forma de dor física. Ela era intensa, sufocante. Achei que estava tendo um infarto. Fui para o hospital com meu marido, que já sabia o que eu demorava a admitir: eu estava à beira de um colapso. Na consulta, a médica foi direta: “Você precisa sair desse emprego. E mudar de vida.”
Naquele momento, chorei como nunca. Não só pelo medo do que viria, mas porque percebi que o que eu chamava de sucesso estava me custando a própria vida. Esses episódios me forçaram a olhar para algo que eu evitava: a necessidade de parar. Não por fraqueza, mas por sobrevivência.
Durante muito tempo, fui a mulher que se orgulhava de “dar conta de tudo”. Dizia sim a todos os desafios, confundia produtividade com valor pessoal e acreditava que o reconhecimento vinha da entrega sem limites. Tinha bons cargos, bons salários, boas conexões, porém o corpo e a mente em colapso.
Falar sobre isso é importante porque, em algum nível, todo mundo entende o que é viver no automático. Alguns percebem o sinal vermelho e freiam. Outros, como eu naquele tempo, só param quando o corpo desaba.
Mas também é preciso reconhecer um ponto: o privilégio.
Em um País onde muitas pessoas precisam escolher entre trabalhar doentes ou não ter renda, falar sobre pausas e autocuidado exige consciência e responsabilidade.
O privilégio de ter acesso a acompanhamento médico, terapia ou mesmo a chance de reorganizar o ritmo de vida não pode ser naturalizado e precisa, sempre que possível, ser compartilhado.
O bem-estar não deveria ser um luxo, e sim o ponto de partida. É neste ponto que entra o conceito de ócio criativo do sociólogo Domenico De Masi: equilibrar trabalho, lazer e aprendizado. Encontrar prazer e sentido no que se faz, sem deixar que o fazer tome o lugar de quem somos.
Hoje o bem-estar, pra mim, é o equilíbrio entre movimento e escuta. É quando a vida deixa de ser uma corrida e volta a ser um caminho.
Nem tudo que pausa perde ritmo. Às vezes, é na pausa que a música realmente começa.
Ju Ferraz é sócia-diretora da Holding e idealizadora do B.O.D.Y..