De segunda a sexta, o carioca Alexandre Silverio chega cedo ao escritório da Quest Investimentos na região da Avenida Faria Lima, em São Paulo, para, junto com uma equipe de sete analistas, decidir que ações comprar e quais vender com os 2,1 bilhões de reais que seus clientes lhe confiaram.Alexandre Silverio

No ano em que a Bolsa já viveu no Céu da probabilidade de uma vitória da oposição e no Inferno da perspectiva de mais quatro anos de uma política econômica disfuncional, gestores como Silverio estão no Purgatório. Nenhum deles sabe como o ano vai terminar, e todos sentem o peso da responsabilidade pelo patrimônio dos clientes.

A estratégia de Silverio para atravessar o ano foi montar uma carteira balanceada — com três temas — que pudesse resistir à volatilidade do mercado.

O primeiro deles é a ‘resiliência ao ciclo econômico’, ou seja, ações de empresas que manterão um fluxo de caixa estável mesmo no caso de uma recessão. Neste tema, Silverio tem na carteira a empresa de educação Kroton, a corretora BB Seguridade, a CETIP, empresa que ganha dinheiro ao registrar contratos para financiamentos de veículos, e o Pão de Açúcar, cuja maior parte da receita vem de alimentos.

O segundo tema é o que Silverio chama de ‘correção de rota’. São ações que tendem a se beneficiar se houver uma mudança de governo ou se Dilma, reeleita, decidir mudar em alguma coisa a matriz econômica atual. Essas ações vão subir se a gestão da companhia mudar (no caso de estatais como a Petrobras) ou se o País retomar o crescimento e atrair de volta o investimento por parte dos estrangeiros, que está represado. Nesta categoria, Silverio gosta da fabricante de caminhões Randon, das empresas de shopping centers BR Malls e Iguatemi, e da Arteris, concessionária de rodovias.

O último tema são empresas com receita ligada ao dólar, e que subirão se a economia mundial crescer ou se o dólar subir no Brasil como resultado da reeleição de Dilma. Nesta lista estão as fabricantes de papel e celulose Fibria e Suzano, a Embraer, e a Dufry, que opera lojas duty free em aeroportos no Brasil e em todo o mundo.

“Esse tripé tem permitido à gente navegar bem este ano: não demos nenhuma grande porrada [jargão do mercado para ‘ganhar muito’], mas não perdemos o dinheiro dos nossos clientes num ano muito perigoso para a Bolsa,” diz Silverio. “Tem dia que um dos temas perde dinheiro, mas os outros dois ganham. E tem dia que dois perdem e o outro compensa.”Dilma Rousseff

Até quarta-feira desta semana, um investidor que tivesse aplicado em 1 de janeiro no Quest Total Return, um fundo de renda variável que aposta na alta de algumas empresas e na baixa de outras, estaria ganhando 115% da taxa do CDI. (Na maioria das aplicações de renda fixa, o cliente consegue taxas nominais — antes de impostos — de cerca de 80% do CDI.)

Em alguns fundos que administra, além de apostar na alta, Silverio também pode apostar na queda do preço das empresas — “ficar short“, no jargão do mercado. Hoje, ele acredita que a construção civil, empresas de telecomunicações e o varejo de eletroeletrônicos, como Via Varejo e Magazine Luiza, vão sofrer mais do que a média se a recessão se agravar ano que vem.

Em 20 de março, Silverio tomou sua decisão mais delicada do ano, mas que contribuiu muito para a performance de seus fundos: comprar um pouco da ação mais desacreditada da Bolsa, a Petrobras. A ação era negociada abaixo de 13 reais, e a equipe da Quest achava que podia valer entre 10 e 30, especialmente se a política de controle de preço da gasolina fosse alterada.

A palavra-chave aqui era assimetria: a Petrobras tinha muito para ganhar e, se nada mudasse, pouco para perder.

Num email para sua equipe, Silverio disse que decidiu comprar a ação, dada a “assimetria favorável.”

Mas o email terminava com um comentário que revela como o mercado é cético em relação à rentabilidade da estatal num governo do PT.

“PS: depois de escrever isso tudo me questiono: será que estou enlouquecendojQuery32106610578698348486_1501941230036?” ele se perguntava.

A ação fechou naquele dia a 13,99 reais. Hoje, mesmo depois da queda nesta reta final da eleição, está em 15,50. (Ao longo do ano, na medida em que saíam pesquisas e a campanha vivia momentos diferentes, Silverio, como muitos gestores, aumentava ou reduzia o lote de PETR4 na carteira.)

Na opinião de Silverio, a reeleição de Dilma pode levar o papel, no curto prazo, a 12-14 reais. E uma vitória da oposição, a 25-27 reais. Detalhe: até ontem à noite, ele dizia que dormiria “comprado” em Petrobras esperando o pregão de segunda-feira, quando o Brasil já saberá o resultado da eleição.

Ele acredita que o ceticismo exagerado pode gerar oportunidades.

“Dependendo de como as ações da Petrobrás abrirem na segunda-feira, poderemos ter um excelente ponto de entrada de longo prazo,” diz ele. “A empresa tem uma oportunidade única, que nenhuma outra tem: um volume de reservas provadas enorme. Passado o calor das eleições, independente do resultado, eles vão ter que recompor a geração de caixa da companhia pra poder fazer os investimentos necessários nos próximos anos, mas também vão ter que tentar reduzir o endividamento da companhia pra evitar perder o grau de investimento.”