A inteligência artificial não está mais só no discurso: boa parte das startups de software da América Latina já incorporou algum tipo de solução em sua operação ou produtos.
É isso o que mostra um estudo, feito pela SaaSholic em parceria com a AWS, que ouviu mais de 400 startups da região, desde empresas ‘pré-receita’ até aquelas que já faturam mais de US$ 5 milhões/ano.
Segundo o levantamento, 87% dessas startups disseram já haver incorporado AI em sua operação ou produtos, um número muito próximo ao dos Estados Unidos (90%).
Dessas startups, 27% são o que a pesquisa classifica como ‘AI-first’, empresas em que a AI é fundamental para o modelo de negócios; outras 27% são ‘AI-integrated’, em que a AI está integrada a seus processos core ou produtos; 13% são as ‘AI-producers’, que atuam treinando modelos de AI; e 20% são as ‘Basic AI Implementation’ — ou seja, aquelas que implementam funções básicas de AI em algumas áreas específicas.
“Sempre que uma nova tecnologia aparece, a melhor forma que os investidores têm para tentar encontrar o ‘next big thing’ é investir no máximo de oportunidades possíveis. E é claro que os empreendedores acabam tirando proveito disso, porque falar que tem AI no negócio faz preço,” William Cordeiro, o fundador da SaaSholic, disse ao Brazil Journal.
“Mas tentamos fazer um estudo que fosse além da superfície, mostrando a infraestrutura que os empreendedores usam, os casos de uso, e mostrando o impacto que a AI tem gerado na velocidade de crescimento dessas empresas, por cada estágio.”
Segundo ele, o estudo — batizado de ‘Latam AI Benchmarks 2025’ — conseguiu separar o que é ruído do que é substância.
Um dos insights da pesquisa é que as empresas que adotam AI estão conseguindo crescer mais rápido do que as que não usam a tecnologia.
“A adoção da AI é fortemente correlacionada com um crescimento mais rápido,” diz o estudo. “75% das ‘AI leaders’ reportaram aceleração nas taxas de crescimento em comparação a 50% das companhias que ainda estão no início de suas jornadas de AI.”
A pesquisa diz que isso pode ser explicado porque as ‘AI leaders’ conseguem lançar novas ferramentas e capacidades com mais frequência.
Para se ter uma ideia, as startups que usam AI e que faturam entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões cresceram seu run rate em 129% nos últimos 12 meses, em média. Já as que não usam AI tiveram um crescimento médio de 51%.
O cenário é parecido nas outras bandas de receita.
“As empresas que estão adotando AI estão conseguindo gerar valor mais rápido do que as que não usam, porque conseguem cobrar ou monetizar de forma mais inteligente ou capturar valor com mais acurácia do que antes,” disse William.
Ela dá o exemplo das empresas que cobram uma assinatura mensal por usuário e têm um teto de crescimento de receita (a quantidade de funcionários). “Mas se elas criam uma solução de AI e passam a cobrar no modelo de ‘outcome-based’, o teto de monetização passa a ser muito maior.”
O estudo também mostra que a AI tem gerado um prêmio de valuation, ainda que a diferença não seja brutal.
Nas startups ‘pré-receita’ que usam AI, o valuation médio tem sido de US$ 5 milhões vs. US$ 3,7 mi das que não usam; nas que faturam entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão e usam AI, o valuation tem sido de US$ 6 milhões vs. US$ 5 milhões das que não usam; e nas que faturam entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões e usam AI, o valuation tem sido de US$ 16 milhões vs. US$ 11 milhões das que não usam.
No mercado atual — de escassez de capital — também há uma diferença na hora de conseguir captar.
As startups ‘pré-receita’ que usam AI têm uma chance 50% maior de conseguir funding de venture capital do que as que não usam.
Outro insight da pesquisa: 93% das startups usam mais de três Large Language Models (LLMs) para criar suas aplicações, com a OpenAI tendo o maior market share disparado entre as startups latinoamericanas (88%). A segunda colocada é a Anthropic Claude (39%), seguida pelo Gemini, do Google (38%).
Para o mercado de SaaS, William diz que vê a inteligência artificial mais como oportunidade do que risco — mas que as empresas que vão sair vencedores são as que conseguem unir o software com os agentes de AI.
“O SaaS não vai morrer, mas ele está evoluindo. Estamos entrando na era do ‘superintelligence software’, um software que vai ser melhorado com a AI,” disse o gestor.
Para ele, as empresas que tiverem só softwares estarão vulneráveis, porque uma nova startup pode criar agentes de AI, gerar valor muito rápido e depois construir o software na sequência.
Já as empresas que só tenham agentes de AI também estarão vulneráveis, porque todo mundo tem acesso a mesma tecnologia e pode copiar rapidamente o que elas fazem.
“A combinação do futuro vai ser ter o software e os agentes de AI, porque aí você é dono dos dados mais críticos dos clientes e está usando AI para extrair valor disso tudo.”