As mulheres chegam altamente preparadas para uma reunião de conselho de administração, fazem perguntas profundas e estão dispostas a reconhecer que não conhecem determinado assunto.
Este comportamento influencia os colegas homens, resultando em uma discussão com menos política e maior abertura a diferentes pontos de vista.
Ao alterar o diálogo, elas tornam o conselho menos propenso à “ignorância pluralista”. Isso significa que menos coisas são varridas para debaixo do tapete quando mulheres têm voz ativa.
Estas conclusões estão em um amplo estudo sobre como as mulheres melhoram as decisões dos conselhos de administração, conduzido por Margarethe F. Wiersema, da Universidade da Califórnia, e Marie Louise Mors, da Escola de Negócios de Copenhague. O ineditismo da publicação mereceu destaque na Harvard Business Review.
Wiersema e Mors ouviram membros dos boards de mais de 200 empresas de capital aberto dos Estados Unidos e Europa.
“As mulheres fazem perguntas aprofundadas e estão dispostas a debater as questões para colocar as coisas na mesa, o que reflete autonomia e racionalidade, atributos não consistentes com as expectativas estereotipadas de gênero de serem deferente ou emocionalmente sensíveis ao que os outros pensam”, escreveram as pesquisadoras.
Por outro lado, “também encontramos impedimentos à capacidade das mulheres diretoras de ganhar influência, na medida em que os diretores homens nem sempre as reconhecem ou lhes conferem respeito como membros iguais dos conselhos de administração.”
O resultado disso é que, apesar do aumento da diversidade de gênero em conselhos de administração, especialmente na Europa, as mulheres ainda enfrentam dificuldades em serem reconhecidas por suas competências gerais.
No Brasil, os dados mostram que a situação ainda é precária no quesito de diversidade de gênero, não só nos conselhos como também nas diretorias.
De acordo com o mapeamento mais recente feito pela B3, com base nos Formulários de Referência de junho deste ano de 343 empresas listadas, 55% não têm mulheres entre seus diretores estatutários, e 29% têm apenas uma.
Nos conselhos, a situação é um pouco melhor. Mesmo assim, mais de um terço das companhias listadas na B3, 36%, não têm mulheres no conselho, e apenas 7% têm três ou mais mulheres como conselheiras.
A Women on Board (WOB), uma iniciativa independente que certifica empresas, listadas ou não, que possuem mais de duas mulheres em conselhos, tem hoje apenas 100 empresas certificadas. “Isso não representa 0,1% das empresas brasileiras,” diz Carol Conway, a diretora de assuntos regulatórios e institucionais da PagBank e uma das fundadoras do WOB.
Certificar empresas que tenham apenas duas mulheres no conselho – e não metade do conselho, por exemplo – se justifica justamente pela quantidade ínfima de empresas com mais de uma mulher no conselho, disse Carol.
O estudo de Wiersema e Mors também se debruçou sobre o efeito da quantidade de mulheres nos conselhos de administração. Uma das entrevistadas na pesquisa relatou que, quando ela era a única mulher no board, “havia o risco de que tudo o que saísse da minha boca eles pensassem que era o ponto de vista de uma mulher e não o ponto de vista de um advogado ou de um varejista”. Quando mais mulheres chegaram, isso não aconteceu mais.
No estudo, as mulheres disseram que eram vistas como especialistas em determinado assunto e ignoradas em seu conjunto completo de experiências e conhecimentos – e isso acontece independentemente de ser a única mulher ou uma de várias.
Mas os entrevistados também relataram que quando há mulheres na sala de reuniões, no plural, os homens se tornam menos competitivos, afetando a atmosfera e permitindo que o conhecimento seja compartilhado. Além disso, a discussão deixa de ser apenas sobre as finanças, tornando as decisões melhores e com menor risco.