A televisão vai se transformar em um grande smartphone na casa do brasileiro – é o que promete a chegada da TV 3.0 ao mercado nacional.
A nova tecnologia tem o potencial de devolver às emissoras parte relevante das verbas publicitárias que migraram para as redes sociais nos últimos anos, mas o desafio é a transição das tecnologias, dizem executivos do mercado de publicidade.
A TV aberta caiu de 54,7% do share do bolo publicitário em 2019 para 46,5% em janeiro deste ano, segundo dados do Cenp Meios.
No mesmo período, a internet avançou de 19,1% para 36,5%, puxada pelo apetite das marcas por anúncios de performance.
Para os espectadores, a chegada da TV 3.0 será percebida na imagem – cujo padrão é 4K podendo alcançar 8K – no som, e na conexão da TV com a banda larga, expandindo suas funcionalidades.
Essa integração permitirá novos serviços interativos, como previsão do tempo, alertas de desastres naturais e a compra de produtos diretamente pela tela – um recurso hoje restrito a redes sociais como Kwai e TikTok.
Segundo Marcelo Bechara, o diretor de relações institucionais da Globo, a TV 3.0 aumentará a granularidade dos dados de audiência, tornando os anúncios muito mais assertivos.
Esse refinamento, diz ele, beneficiará tanto os grandes anunciantes quanto novos players regionais. “Hoje, se uma marca de Guarulhos quiser fazer um anúncio, ela paga o preço do mercado da capital. Com a TV 3.0, será possível ativar uma propaganda diretamente na cidade, ou até em um bairro específico.”
Essa é uma das principais transformações para as emissoras na briga com as redes sociais. Claudio Toigo Filho, o CEO do Grupo RBS, resume: “A TV 3.0 é a junção do melhor de dois mundos, a interatividade do digital com a credibilidade e acessibilidade da TV aberta.”
Para executivos do mercado publicitário, o consenso é de que o investimento nas emissoras deve aumentar, mas só quando a tecnologia já estiver consolidada no País.
O decreto assinado hoje pelo Presidente Lula marca o início desta nova fase para o mercado de radiodifusão. A TV 3.0 começa a operar no primeiro semestre de 2026, com prazo de até 15 anos para cobrir todo o território nacional.
Até o fim da transição, o maior gargalo para a TV 3.0 será o acesso aos aparelhos compatíveis com a nova tecnologia, tanto para os consumidores quanto para as emissoras.
Hoje o Brasil possui um parque de televisores com aproximadamente 90 milhões de unidades, dos quais 60% são de TV do tipo Smart, mas nem esses aparelhos são compatíveis com a nova tecnologia.
O dono do televisor terá que comprar um conversor para conseguir acessar as funcionalidades da TV 3.0 – e a estimativa do governo federal é de que este aparelho seja vendido por cerca de R$ 400.
Monitores de televisão que saírem de fábrica já com a nova tecnologia devem ser comercializados no mesmo patamar dos aparelhos Smart atualmente vendidos no País.
“Qual será o cronograma da transição? Essa é a pergunta de milhões de dólares, porque a transição é muito cara,” disse Tomás Schoeller, sócio da área de tecnologia do Pinheiro Neto.
Segundo ele, o governo ainda não esclareceu por quanto tempo manterá duas faixas de transmissão ativas, nem se dará incentivos à adoção da tecnologia.
“Não faz sentido manter duas gerações existindo por muito tempo, mas não podemos desligar da noite pro dia e ter um apagão da tecnologia,” disse.