No final de seu Advanced Management Program na Harvard Business School em 2022, o CFO da Minerva, Edison Ticle, precisava entregar um plano de negócios para o trabalho de conclusão de curso.

Na hora de definir o tema, ele se lembrou de uma discussão que tivera com o CEO Fernando Queiroz e o diretor de relações institucionais, João Sampaio: a possibilidade de criar uma empresa para aproveitar o momento de alta dos créditos de carbono – e ainda ajudar no processo de descarbonização da própria Minerva, que quer ser carbono neutro até 2035. 

Foi assim que nasceu a MyCarbon, a subsidiária da Minerva para originação e comercialização de créditos de carbono. 12108 aa954656 cf13 2184 fe7f 8bb311a7c28d

“O DNA da Minerva é de trading, de uma exportadora. Então fazia todo o sentido criar uma subsidiária que pudesse cuidar de toda a descarbonização da Minerva e do setor,” Ticle disse ao Brazil Journal

O objetivo da MyCarbon é  desenvolver um setor que, além de pequeno, também sofre com a falta de credibilidade por conta do surgimento de múltiplas fraudes. 

Até o momento, a Minerva já investiu R$ 25 milhões na companhia e outros US$ 10 milhões em projetos que retornarão em forma de créditos.

Uma das frentes que recebeu esse investimento foi o Programa Renove, criado pelo própria Minerva para atuar na recuperação de terras e pastagens.

A MyCarbon vem atuando diretamente com os fornecedores da Minerva para educá-los no tratamento da terra – desde a necessidade de rotação de sementes, utilização de produtos mais eficientes até o cercamento das áreas degradadas.

“Mas vamos operar sempre em um modelo asset light. A ideia é não precisar comprar terras,” disse Ticle. 

Para esse público, a empresa criou uma parceria com a Yara, uma das líderes globais de fertilizantes, que ajudará na consultoria no uso de adubos que ajudem a terra a absorver o carbono.

Mas a empresa vê como a maior oportunidade a recuperação das terras de plantações de grãos, e já fez parcerias com empresas como a SLC Agrícola e algumas tradings.

Nas estimativas da MyCarbon, ambas ações devem gerar 3,3 milhões de toneladas de carbono nos próximos dez anos (300 mil na pecuária e 3 milhões em grãos). A primeira emissão deve acontecer já em 2026 – quando deve acontecer o breakeven

Além disso, a MyCarbon já entrou em leilões de crédito de carbono como trading. Em 2022, a empresa vendeu 250 mil toneladas de créditos para empresas sauditas por meio de um leilão realizado pelo PIF, fundo de investimento público da Arábia Saudita.

Para o ano que vem, a empresa planeja entrar em leilões por meio de parcerias com empresas como a Mombak para oferecer créditos de conservação de florestas e reflorestamento – um dos mais valorizados dentro do mercado.

A MyCarbon também quer aumentar o valor agregado dos produtos da Minerva. 

A ideia, segundo Ticle, é aumentar a venda de carnes com crédito de carbono para o cliente. 

“Quando o cliente compra a carne neutralizada, ele vai conseguir vender para o cliente que quer ou precisa desse crédito,” disse o executivo. “Desde um cliente mais responsável em um supermercado da Suíça até uma companhia aérea que tem metas ambiciosas de descarbonização.” 

Para tocar todo o negócio, Ticle recrutou a bióloga Marta Giannichi como CEO da MyCarbon. A executiva chegou ao comando em março do ano passado, quando Ticle passou a chairman.

A executiva, que tem um PhD em ecologia pela Universidade de Leeds, ocupou o cargo de secretária da Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente durante o governo Bolsonaro.

A MyCarbon tem 20 funcionários e opera dentro da Minerva. 

Segundo os executivos, apesar de ainda ser incipiente, a MyCarbon já tem sido procurada por fundos de investimento. 

“Para acontecer isso, precisaríamos fazer um spinoff, mas em qualquer um dos cenários a Minerva vai continuar sendo o controlador,” disse Ticle.