A ComBio — que ajuda grandes indústrias a substituir o combustível fóssil por biomassa nas caldeiras de vapor — acaba de levantar um financiamento de até R$ 450 milhões com o IFC, o braço de investimentos do Banco Mundial.
A primeira tranche do empréstimo, que acaba de entrar no caixa da empresa, é de R$ 120 milhões — mas a ComBio poderá chamar o capital restante ao longo dos próximos anos caso encontre projetos que demandem os recursos.
Esta primeira tranche será usada para financiar a instalação de caldeiras em duas fábricas da Ingredion, que fabrica ingredientes para diversas indústrias, além da instalação de caldeiras numa fábrica da Pirelli. Ambos os projetos ficam em São Paulo.
As caldeiras da Ingredion já foram instaladas e estão operacionais, enquanto as da Pirelli serão instaladas até o final do ano.
Para bancar o projeto da Ingredion, a ComBio usou recursos que captou com equity: R$ 350 milhões de uma rodada com a SPX e a Lightrock, fechada em novembro passado, quando as duas gestoras ficaram com 15,5% da companhia cada.
Agora, com o financiamento da IFC, “vamos alavancar uma parte importante desse projeto e liberar o equity para mais crescimento,” o CEO e cofundador Paulo Skaf Filho disse ao Brazil Journal.
A maioria das fábricas brasileiras gera vapor para suas operações com o uso de combustíveis fósseis, como o gás natural e o óleo BPF, derivado do petróleo. A ComBio ajuda essas empresas a migrar para uma geração térmica feita com a biomassa — uma matéria-prima sustentável, abundante no Brasil, e mais barata.
Para isso, a companhia faz todo o capex para a instalação das novas caldeiras capazes de rodar com a biomassa, e depois fica responsável pelo fornecimento da biomassa e a operação dos equipamentos.
Fundada há 15 anos, a ComBio tem 10 projetos em operação, todos de grande porte — que consomem de 20 a 200 toneladas de vapor por hora. Ela atende gigantes como a Klabin, CBA, Grupo Petrópolis, Unilever e Ingredion.
O capex para cada projeto gira em torno de R$ 50 milhões a R$ 350 milhões. Em contrapartida ao investimento, os clientes fecham contratos de longo prazo com a ComBio — tipicamente de 10 a 15 anos. O payback do investimento acontece em 3 a 5 anos, segundo o CEO.
A ComBio espera faturar R$ 850 milhões este ano e elevar seu top line para mais de R$ 1 bilhão no ano que vem. “Estamos bem posicionados para isso, com um balanço muito forte, e o mercado onde atuamos é gigantesco,” disse Skaf Filho.
Ainda que não haja um levantamento oficial, a estimativa da empresa é que seu TAM (total addressable market) seja de mais de R$ 100 bilhões, o que daria um market share de menos de 1% hoje.
O principal competidor da ComBio são as próprias empresas, que muitas vezes decidem fazer elas mesmas o investimento para a migração da geração térmica fóssil para a biomassa.
“Mas cada vez mais, mesmo empresas que já fizeram o investimento estão querendo que a gente assuma a operação, porque nos envolvemos muito na cadeia de produção de biomassa,” disse o CEO. “Temos múltiplas fontes de diferentes segmentos, e muitas das biomassas são processadas pelo nosso time, o que traz uma previsibilidade de custos maior.”
Segundo ele, se o cliente compra a biomassa pronta, ele deixa de aproveitar as oportunidades e, em geral, acaba incorrendo em custos menos competitivos.
“Hoje, por exemplo, o bagaço de cana voltou a ser abundante porque a energia está barata, então estamos trabalhando muito com ele. Mas se a energia ficar cara, podemos usar outros resíduos, como o caroço do açaí, os restos de eucalipto ou a casca de arroz.”
O financiamento do IFC tem prazo de nove anos, com carência de três. As taxas não foram reveladas, mas o CFO da ComBio, Daniel Szlak, disse que foram mais atrativas do que um empréstimo padrão porque a linha do IFC foi classificada como um green loan.
“Somos uma empresa com rating ‘AA’ hoje, mas nessa operação estamos captando como se fôssemos ‘AAA’, o que tipicamente gera um incremento de 100-150 basis points na taxa,” disse Szlak.
Carlos Leiria Pinto, o country manager do IFC no Brasil, disse que o IFC sempre busca operações que permitam atingir seus objetivos e que, no caso da ComBio, ela se encaixa em dois deles: apoiar a transição energética no Brasil e a economia circular.
“Eles ajudam muito na economia circular porque usam resíduos que seriam jogados fora e agora podem ser incorporadoras a cadeia produtiva,” disse Leiria. “Também buscamos apoiar a produtividade das empresas e a tecnologia deles permite reduzir o custo de produção.”
O CFO da ComBio disse que a redução de custos varia de fábrica a fábrica, mas que algumas reportaram uma redução de mais de 50%. “E isso sem falar na redução do capex, porque elas deixam de ter que investir em novas caldeiras e na manutenção.”