Os acionistas da Boa Vista acabam de aprovar a venda do bureau de crédito para a Equifax, marcando a conclusão de uma transação que sofreu forte resistência de parte da base acionária.
A votação foi ganha com uma certa margem.
Do total de ações presentes na assembleia, cerca de 69% votaram a favor, 30% votaram contra e menos de 1% se absteve. Estavam presentes acionistas que representavam mais de 90% das ações da companhia.
Para que a votação fosse aprovada era necessário que 50% do capital mais 1 votasse a favor.
De largada, a Equifax tinha uma vantagem: ela própria já era dona de 10% do capital e tinha o apoio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que era dona de outros 30% e recebeu termos mais favoráveis que o restante dos acionistas.
A proposta da Equifax incluiu um acordo de prestação de serviços pelo qual a Equifax vai pagar R$ 14,5 milhões por ano para ter acesso aos dados da ACSP de forma exclusiva por um período de 15 anos.
Apesar da vitória com margem, a votação não foi exatamente pacífica.
Na assembleia, a JGP votou contra e decidiu se manifestar “para registrar algumas preocupações em relação à operação,” como consta na ata da AGE.
A primeira delas é o que ela chamou de um “conflito de interesses da ACSP.”
“Se o montante do contrato de prestação de serviço da ACSP fosse trazido a valor presente, este representaria, aproximadamente, 12% do valor de mercado da participação da ACSP na companhia. Ou, visto de outra forma, tal benefício representaria um prêmio de 12% em relação ao preço recebido pelos outros acionistas.”
A JGP disse ainda que “a melhor prática de governança seria a ACSP se abster de votar,” assim como a Equifax.
A JGP também questionou o preço da venda, que “está distante do valor que a companhia tem para a Equifax.”
O preço, disse a gestora, é equivalente a um desconto de 50% do múltiplo EV/EBITDA dos últimos 12 meses da Equifax e “não reflete as relevantes sinergias e a importância estratégica dada a relevância do ativo e do País.”
A JGP notou ainda que o prêmio apresentado pela Equifax usou como base um curto período de tempo “onde as small caps estavam extremamente depreciadas.”
A Equifax rebateu as críticas dizendo que o valor da oferta representa um prêmio de 89% em relação ao fechamento de 15 de dezembro (o dia anterior à oferta) e de 65% sobre o preço médio dos 30 pregões anteriores a 15 de dezembro.
“Além de ser benéfica para os acionistas do ponto de vista econômico, a operação visa criar uma sólida estrutura de negócios baseada na atuação integrada da EFX e Boa Vista no mercado de bureau de crédito no Brasil.”
Ao votar a favor da transação, a ACSP disse que “não tem qualquer benefício particular ou conflito de interesses em relação às matérias da ordem do dia.”
“A celebração do acordo de não concorrência com a EFX Brasil e EFX tampouco caracteriza um benefício particular na medida em que a contraprestação lá prevista não decorre da posição de acionista da ACSP,” disse a associação.
Com a aprovação da venda, os acionistas da Boa Vista terão que decidir, entre os dias 17 e 31 de julho, se preferem receber R$ 8 por ação em dinheiro; R$ 7,20 em dinheiro e 0,0008 de um BDR da Equifax; ou R$ 5,33 em ações ordinárias da Equifax Brasil e R$ 2,67 em dinheiro ou 0,0027 de um BDR da Equifax.
A parte em dinheiro vai ser ajustada pelo IPCA do 10 de maio até o dia anterior ao fechamento da operação.
SAIBA MAIS
Equifax propõe tirar Boa Vista da Bolsa com prêmio de 70%
Boa Vista: grupo de acionistas rechaça Equifax e busca alternativas