As mulheres da Geração X, nascidas entre 1965 e 1980, chegaram fazendo barulho à fase da vida que antes era enfrentada com discrição e até mesmo vergonha, conhecida como a “crise da meia-idade” ou tratada simplesmente como o fim do período fértil e o prenúncio da velhice.

Hoje, ao contrário de suas mães e avós, as mulheres que hoje se aproximam da menopausa (a última menstruação) querem falar abertamente sobre o tema.

Celebridades e influenciadoras começaram a quebrar o silêncio, compartilhando experiências. A apresentadora Fernanda Lima tem falado abertamente sobre os efeitos da perimenopausa (a fase de transição que antecede a menopausa) em sua rotina em entrevistas, podcasts e nas redes sociais.  

A ela se juntam outras vozes, como a atriz Cláudia Raia e as jornalistas Silvia Ruiz e Ana Paula Padrão. Em pauta, temas que vão do etarismo aos efeitos da menopausa sobre a vida profissional.

Há também uma busca por identificação, evidenciada pela repercussão de um relato despretensioso gravado no estacionamento de um supermercado nos EUA.

No vídeo publicado em maio, a influenciadora Melani Sanders (@justbeingmelani), moradora da Flórida, desabafa sobre os desafios da perimenopausa.

Com humor, ela sugere a criação de um clube fictício para quem, como ela, estava cansada de sofrer em silêncio: o “We Do Not Care Club”, ou o “Clube do não estou nem aí”.

De lá para cá, vídeos com Sanders usando dois ou três óculos ao mesmo tempo, cabelos desalinhados e roupas desencontradas tiveram centenas de milhares de visualizações.

Agora, Sanders está prestes a lançar um livro pela HarperCollins, The Official We Do Not Care Club Handbook (O manual oficial do clube do não estou nem aí). Em pré-venda e sem previsão de publicação no Brasil, o título já é um best-seller na Amazon. (Compre aqui)

O sucesso da publicação é mais um sinal da relevância do que alguns analistas de mercado chamam de “economia climatérica” – o vasto mercado de produtos e serviços desenvolvidos para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida nessa fase.

As palavras perimenopausa e climatério estão por toda parte. “Agora tudo é culpa da perimenopausa,” reclamam filhos, maridos e amigos mais jovens das mulheres que a vivem.

Quem já entendeu o potencial de lucro gerado pelos fogachos, a névoa mental, as alterações de humor e as dezenas de possíveis sintomas provocados pelas oscilações hormonais características do período certamente não tem do que reclamar.

Na realidade, essa fase da vida feminina tem se revelado um negócio bilionário, com movimentações claras no varejo, na saúde e na mídia.

Um relatório da ONG americana WHAM, que promove a pesquisa em saúde da mulher, menciona que o mercado global de produtos para a menopausa, avaliado em US$ 18 bilhões em 2024, deve saltar para cerca de US$ 25 bilhões até 2030.

Segundo pesquisa realizada pelo hub data8 (que investiga tendência e inovação sobre a economia da longevidade na América Latina) em parceria com a startup NoPausa, o Brasil se destaca como líder regional. Os mais de R$ 2 bilhões anuais movimentados hoje devem se tornar R$ 3 bilhões até 2030.

São diversas frentes de atuação, com destaque para suplementos e nutracêuticos (fórmulas com isoflavona, vitaminas e minerais voltados para o equilíbrio hormonal e o alívio de sintomas), cosméticos e dermocosméticos (produtos para a pele madura, contra o ressecamento e a perda de colágeno), conteúdo e comunidade (podcasts, newsletters e plataformas dedicadas ao tema) e femtechs (aplicativos que monitoram sintomas, dispositivos para aliviar ondas de calor e plataformas de telemedicina especializadas).  

Esse público representa um contingente de consumidoras com alto poder aquisitivo historicamente ignoradas pela maioria das indústrias. Agora, elas buscam por soluções.

A beleza ou juventude eterna como meta deram lugar à saúde e ao bem-estar. As mulheres na perimenopausa realizam check-ups anuais (67%), tomam vitaminas (46%) e seguem dietas balanceadas (39%), segundo a pesquisa da data8.

Para além do mundo dos negócios, a crescente conscientização sobre o climatério reverbera no poder público e mobiliza a sociedade. ONGs lutam por políticas públicas e têm encontrado eco nas casas legislativas do País.

O tema não é apenas um modismo. Assim como a adolescência – que a partir dos anos 1960 passou de uma fase estigmatizada a um ideal cultural e nicho de consumo – o climatério está sendo ressignificado. Se o paralelo se confirmar, deixará de ser um intervalo silencioso para se consolidar como um capítulo central e permanente na vida da mulher – e na economia.