Ninguém entendeu a grosseria.

Numa conversa descontraída e cheia de piadas com os analistas que cobrem a empresa, o CFO da Petrobras, Sérgio Leite, disse hoje que acima de R$ 1, a ação da Vibra “está cara.”

Na reunião online hoje cedo, o executivo disse que a Petrobras não tem interesse em recomprar o controle da Vibra e que “o fundamento da empresa é ruim”, segundo analistas que participaram da reunião e ficaram desconcertados. 

“A ação tá a quanto hoje? R$ 8? Então acima de R$ 1 está cara. Pode botar isso aí,” disse Sérgio, demonstrando desconhecer o preço do papel. 

A Vibra negocia ao redor de R$ 16,50; a empresa vale R$ 19 bilhões na B3. 

A declaração – inapropriada para um CFO de empresa listada e no mínimo deselegante com uma companhia que até outro dia era uma subsidiária da Petrobras e ainda é sua maior cliente – vem dois anos depois da Petrobras ter vendido sua participação na Vibra por R$ 26 por ação.

A declaração de hoje também vem depois que o presidente Lula já manifestou o desejo de desfazer a privatização da companhia. Na conversa com os analistas, Sérgio parecia empenhado em reforçar a mensagem de que a Petrobras não tem interesse na Vibra, chegando a recomendar um ‘short’ na ação da distribuidora sempre que rumores de uma possível recompra da empresa surgirem no mercado.

Se quisesse comprar a Vibra, a Petrobras teria que pagar caro – o que talvez explique as palavras depreciativas do CFO. O poison pill da empresa obriga qualquer investidor que comprar mais de 25% do capital a pagar um prêmio de 15% sobre o maior valor da ação nos 18 meses anteriores, o que hoje daria ao redor de R$ 30 por ação. 

Muito à vontade, o CFO também falou sobre a Braskem. Ele disse que a Petrobras “não é vendedora”, mas que ainda não decidiu se vai exercer seu direito de preferência sobre a participação da Novonor.

O CFO brincou que tem “um santinho com o nome da Braskem em casa”, e que reza todo dia para que grandes empresas do setor apareçam para fazer uma oferta. Ele citou, por exemplo, a Saudi Aramco, LyondellBasell e Borealis.

Sérgio, que antes de se tornar CFO da Petrobras foi sócio do CEO Jean-Paul Prates em sua consultoria, disse, no entanto, que investir em petroquímica faz todo sentido para uma empresa de petróleo, e que seria um “uso nobre do capital.” 

E voltou a bater na Vibra, dizendo que que comparar o interesse da Petrobras pela Braskem e pela Vibra seria “como comparar vinho com água.”

Na conversa, Sérgio pareceu preocupado com a percepção do mercado sobre a ação da Petrobras, dizendo diversas vezes que a ação “está muito barata.”

“Conforme vocês forem entendendo como a empresa está, vão ver que ela está muito barata,” disse o executivo. 

Alguns analistas disseram que o CFO pareceu “despreparado” e que não conseguiu ser claro nas explicações sobre a política de preços. Outra impressão foi de que Sérgio é muito bem humorado e “fanfarrão”, fazendo várias piadas ao longo da call.

A ação da Petrobras sofreu downgrades de pelo menos três bancos nas últimas semanas – Citigroup, HSBC e JP Morgan – com os analistas preocupados com a política de preços da companhia.