O mercado de carros elétricos mal deu a partida no Brasil — são apenas 50 mil, metade deles híbridos — mas uma startup de Porto Alegre já está tentando se posicionar como um player dominante quanto o assunto são pontos de recarga.
A estratégia: conquistar o mercado enquanto quase ninguém está olhando pra ele.
“Em dez anos, o Brasil pode ter mais de 2 milhões de carros elétricos,” Pedro Schaan, o CEO e fundador da Zletric, disse ao Brazil Journal. “Queremos pisar no acelerador e ganhar terreno para estar preparados quando esse mercado explodir.”
Fundada em 2019, a Zletric tem 100 pontos de recarga em São Paulo e no Rio Grande do Sul — mas quer fechar o ano com 300. Para efeito de comparação, o maior operador de recargas do Brasil hoje é a Volvo, com 700 pontos: a fabricante oferece a recarga de graça para quem compra um de seus carros.
As estações da Zletric estão principalmente em condomínios residenciais e alguns shoppings como o Viva Open Mall (em Porto Alegre) e o Multi Open Shopping (em Floripa).
A expansão está sendo financiada por uma rodada de ‘seed money’ levantada há alguns meses. A Zletric captou R$ 2 milhões com investidores-anjo, incluindo o ex-CEO da CPFL, André Dorf.
O plano do fundador é eletrizante: Pedro quer levantar mais R$ 10 milhões ainda este ano, o que lhe permitiria instalar mais mil pontos de recarga em São Paulo.
À primeira vista, a ambição pode parecer insana; afinal, como ganhar dinheiro num mercado que ainda nem existe?
Mas o exemplo dos Estados Unidos dá uma ideia do potencial.
Recentemente, a Casa Branca anunciou um plano para investir US$ 15 bilhões para aumentar os pontos de recarga de 42 mil para 500 mil até 2030, quando espera-se que praticamente toda a frota do país seja elétrica. (Hoje, um terço de todos os pontos de recarga americanos estão na Califórnia).
Nos EUA, a maior rede de recarga é a ChargePoint, que já vale US$ 8 bi na Bolsa de Nova York. A Tesla é dona da segunda maior rede, mas usa um recarregador que só funciona para os seus carros (em vez de um modelo universal adotado pelas outras).
Uma tendência clara: as montadoras têm feito parcerias com as redes de recarga. A GM se aliou à EVgo, que está indo para a Bolsa por meio de um SPAC; a Ford trabalha com a Greenlots e a Electrify America; e a Stellantis (resultado da fusão da Fiat Chrysler com a Peugeot Citröen) também tem parceria com a Electrify America.
Pedro diz que a Zletric está operando no mesmo modelo das americanas: uma oferta ‘as a service,’ na qual o consumidor faz uma assinatura mensal para ter direito a determinado volume de recarga.
A ideia é atender duas necessidades distintas: as pessoas que querem instalar seus pontos no prédio mas precisam individualizar esse consumo do restante do condomínio; e as chamadas ‘recargas de oportunidade’, quando o motorista está na rua ou no shopping e quer carregar um pouco a bateria.
No primeiro modelo, há duas formas de cobrança: o consumidor pode pagar uma assinatura de R$ 169/mês para ter a infraestrutura do equipamento e da medição do gasto de energia; ou receber a infraestrutura de graça, mas pagar um valor maior pela energia.
Neste segundo modelo — que também é usado nos shoppings — a Zletric compra a energia do condomínio por um valor X e depois revende ao usuário por um preço maior.
Mesmo com esse ‘markup’, Pedro calcula que o dono do carro elétrico ainda terá um custo de 2x a 3x menor do que se estivesse usando um carro movido a gasolina.
O fundador da Zletric é um engenheiro elétrico que já havia empreendido antes. Até 2018, ele era dono de uma startup de internet das coisas (IoT) que atendia condomínios ajudando na medição do consumo de gás e água. A ideia de entrar no mundo elétrico surgiu quando seu sócio e amigo, Tarik Totthoff, comprou um Volvo híbrido e percebeu a escassez de locais para fazer a recarga.
A Zletric não é a única tentando dominar o mercado brasileiro.
Além das montadoras, há outros pequenos players povoando as cidades com pontos de recarga. Um deles é a EzVolt, que tem um modelo de negócios parecido mas tem apenas 20 pontos no Rio.
O que falta para esse mercado decolar?
Na visão de Pedro, incentivos dos governos e uma redução no preço dos carros, que ainda são inacessíveis para 99% da população.
“Hoje, o carro 100% elétrico mais barato custa em torno de R$ 200 mil. Pra mim, o turning point do setor vai ser quando tivermos um carro por menos de R$ 100 mil.”
Um detalhe importante: a maioria dos carros híbridos (muito mais numerosos que os 100% elétricos) não carregam na tomada, e portanto ficam fora do mercado endereçável da Zletric.