Os últimos números do Carrefour no Brasil estão levando os investidores a questionar dois consensos do mercado: primeiro, o de que o Carrefour continua dormindo no ponto; segundo, o de que o Grupo Pão de Açúcar (GPA) é o padrão de eficiência com o qual se deve medir o setor.carrefour-logo

No último trimestre, enquanto as vendas do Carrefour crescerem 7,7% no conceito ‘mesmas lojas’ (aquelas abertas há mais de um ano), as vendas do GPA aumentaram apenas 0,6%.

Por enquanto, seria prematuro chegar a conclusões definitivas sobre a performance das duas redes porque nem o GPA nem o Carrefour publicaram ainda os resultados financeiros do trimestre (apenas as vendas nas mesmas lojas). Além disso, o Carrefour não ‘abre’ os dados de seu desempenho financeiro no Brasil separadamente.

Mas, usando como base os dados do primeiro semestre do Carrefour na América Latina, é possível concluir que a margem EBITDA do Carrefour — uma medida de eficiência operacional — está subindo.

“Há três hipóteses: ou eles não estão sendo agressivos em preço, ou estão sendo ainda mais eficientes que o GPA em cortar custos, ou estão crescendo mais em formatos que têm margens melhores,” diz Guilherme Assis, analista do Banco Brasil Plural, que acaba de publicar um relatório questionando a diferença na performance dos dois franceses. (Assis mantém uma recomendação de compra para as ações do GPA.)Jean-Charles Naouri

O Casino — comandado por Jean-Charles Naouri e arquirrival do Carrefour na França — assumiu o controle do GPA em junho de 2012, quando exerceu sua opção de comprar a posição de Abilio Diniz. A transição da equipe de gestão no GPA foi conturbada, com Eneas Pestana fazendo a ponte entre Diniz e o Casino por algum tempo. A gestão Casino puro-sangue começou efetivamente com a nomeação de Ronaldo Iabrudi como CEO em 20 de janeiro deste ano.

Desde então, o discurso do GPA tem três pilares: cortar custos; crescer no chamado ‘atacarejo’ e abrir mais lojas de vizinhança em vez de hipermercados; e repassar ao cliente todas as economias, de forma a se consolidar como a rede com os preços mais baixos.

Mas nestes três trimestres, os resultados de vendas em mesmas lojas do GPA têm sido voláteis, enquanto os do Carrefour têm sido mais consistentes (veja gráfico abaixo).

Tanto o GPA quanto o Carrefour têm focado muito no atacarejo, um negócio que cresce mais rápido do que os supermercados tradicionais. O GPA é dono do Assaí, e o Carrefour, do Atacadão. As margens do atacarejo geralmente são metade das margens dos supermercados tradicionais, mas as duas redes investem no negócio porque ele tem um retorno atraente: é mais barato construir um Assaí ou um Atacadão (basicamente, um galpão sem luxo) no meio de uma rodovia do que fazer um supermercado em Moema.

“Até recentemente, ninguém estava performando melhor que o GPA no Brasil”, diz um gestor americano que investe em empresas de varejo no Brasil. “Agora, só o Carrefour está conseguindo ter um crescimento perto da taxa de inflação [no conceito mesmas lojas].”

De qualquer maneira, os números sugerem que a concorrência no Brasil está se acirrando, e que o Carrefour, um player que o mercado julgava adormecido e que parecia ir bem apenas no atacarejo, pode estar retomando o foco em sua operação de super e hipermercados.

Se os números do Carrefour continuarem melhorando, aumentarão muito as chances de um IPO do Carrefour Brasil em 2015, algo já sinalizado pela matriz na França.

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