A Carbonext, uma startup que atua no mercado voluntário de créditos de carbono, acaba de receber um aporte de R$ 200 milhões da Shell para expandir sua atuação em outras áreas da bioeconomia, como o reflorestamento e a produção sustentável dentro da Amazônia.
A rodada acontece dez meses depois do primeiro aporte recebido pela empresa. Em setembro, a Carbonext levantou R$ 30 milhões em uma rodada Série A que atraiu mais de 20 investidores, como os fundos de venture capital Canary e a Alexia Ventures. Agora, mesmo com um aporte quase 7x maior, a Shell ainda será uma acionista minoritária do negócio.
Com o dinheiro em caixa, a fundadora e CEO da Carbonext, Janaína Dallan, se prepara para levar a empresa a novas áreas. Se até agora o foco da startup foi em convencer terceiros a conservar suas terras – e vender créditos de carbono no mercado voluntário – agora a startup quer ter uma atuação mais direta na floresta.
A Carbonext já está de olho em aquisições de empresas que atuem tanto em reflorestamento quanto em áreas da bioeconomia, como a plantação sustentável de açaí, entre outras iniciativas.
Além disso, está nos planos a compra de terras para explorá-las de maneira sustentável. Atualmente, a startup só faz parceria com donos de fazendas e os auxilia na gestão sustentável – e é remunerada pela concepção e gestão dos projetos e pela comercialização dos créditos que companhias como Raízen, Uber e TIM já adquiriram.
“Queremos transformar a relação primitiva dos empreendedores com a floresta baseada somente na extração. A ideia é trazer tecnologia e desenvolvimento para mudar a relação de todos com a natureza,” diz Janaína.
Essa diversificação dos negócios também se dá por uma meta que o Brasil firmou na COP-26: acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Apesar de o País ainda estar longe de alcançar esse objetivo, caso ele seja cumprido nos próximos oito anos isto será um fator que pode derrubar o preço dos créditos de carbono na região.
Atualmente, quanto mais em perigo está a área em que a conservação é feita, maior o crédito de carbono – modelo similar ao das tarifas dinâmicas de aplicativos de transporte, em que se cobra mais caro dependendo da oferta e demanda de motoristas.
De qualquer maneira, o potencial global para o negócio é grande. Estudos mostram que o mercado vai crescer 15 vezes até 2030 e cerca de 100 vezes até 2050. Porém, o mercado em que a Carbonext atua – o crédito voluntário – representa uma pequena fração: enquanto o mercado regulado endereça 10 bilhões de toneladas, o voluntário mal chega a 500 milhões de toneladas.
Por isso, a entrada em frentes como o reflorestamento pode permitir que a Carbonext também comece a ter acesso ao mercado regulado. “A parte de conservação de terra não é contemplada no mercado regulado, enquanto o reflorestamento é,” disse Janaína. Isso, segundo ela, abre uma grande avenida de crescimento.
Nos próximos cinco anos, a empresa quer saltar de 2 milhões de hectares protegidos para cerca de 5 milhões, segundo Luciano Corrêa da Fonseca, irmão de Janaína e co-presidente da Carbonext. Nas contas da startup, o potencial na Amazônia é de 150 milhões de hectares.
Na visão de Fonseca, a parceria com a Shell será fundamental para o crescimento. Afinal, a Carbonext passará a ter acesso a ferramentas que a gigante anglo-holandesa já utiliza em seus projetos de energia e exploração de petróleo, como satélites de alta resolução e uma ferramenta chamada e-DNA, que por meio de uma amostra do solo consegue fazer o mapeamento de toda a fauna e flora do local.
“Vamos conseguir espalhar e medir a respiração da floresta, por exemplo. É um canhão de competências que vamos começar a aplicar para o desenvolvimento da floresta,” diz o executivo.
A investida na Carbonext é o terceiro movimento global feito pela Shell no mercado de crédito de carbono. Com a meta de ser carbono-neutra até 2050, a empresa comprou a australiana Select Carbon em 2020 e, no ano passado, criou a joint-venture EnKing na Índia em parceria com a consultoria de energia EKI – com a meta de investir US$ 1,5 bilhões até 2026
“Nos associar à Carbonext é um passo importante para a nossa meta de compensar 120 milhões de toneladas de CO2 ao ano até 2030,” disse André Araújo, o presidente da Shell no Brasil.