Quando indicadores apontam tempos de volatilidade pela frente, precisamos manter em vista o que é essencial a longo prazo. Apesar de terminarmos 2021 com quase metade da população mundial imunizada contra o coronavírus, ainda navegamos pela pandemia. Nesse cenário, um dos grandes desafios do mundo nos próximos anos será retomar o crescimento de forma inclusiva e sustentável. No Brasil, esse imperativo será ainda mais crítico. Ao enfrentarmos uma emergência de grandes proporções como a Covid, a importância do crescimento inclusivo e sustentável ficou cada vez mais evidente. Os níveis de desigualdade, que já eram altos, pioraram; muitas pessoas perderam seus empregos e meios de subsistência; crianças e adolescentes tiveram seus processos de aprendizado interrompidos ou atrasados. Não adianta mais crescer se o crescimento não for inclusivo e sustentável ao mesmo tempo – é uma questão de “e”, e não de “ou”.

Metas de sustentabilidade, inclusão e crescimento podem se reforçar mutuamente e criar um ciclo virtuoso. Alguns exemplos desse potencial, segundo pesquisas recentes da McKinsey: aumentar a participação das mulheres no ambiente de trabalho pode adicionar US$ 13 trilhões ao crescimento do PIB global; as taxas de crescimento de produtos e mercados sustentáveis superam as de produtos e mercados convencionais em 10 a 20 por cento em todas as categorias; com uma abordagem eficiente de upskilling, o aumento do número de empregos pode superar a quantidade de postos fechados pela tecnologia na proporção de dois para um.

Mas o desafio vai muito além da implementação de metas, pois se crescimento, inclusão e sustentabilidade se reforçam em muitos pontos, também agem como contrapesos em uma série de outros. Como crescer sem aumentar o consumo de materiais e serviços não sustentáveis? Como prevenir o impacto ambiental negativo em países dependentes economicamente da energia fóssil? Como impedir que as famílias mais frágeis paguem um preço maior no início da transição energética, caracterizada pela alta dos preços de eletricidade?

Não temos a resposta exata, mas já sabemos que a solução será coletiva, exigirá muita experimentação, uma velocidade sem precedentes para escalar as experiências bem-sucedidas e ampla participação de todos os elos da cadeia, incluindo todos os stakeholders: de fornecedores e acionistas até concorrentes e organizações da sociedade civil. Alguns estarão mais próximos de conquistar seus objetivos, outros mais distantes, mas o compromisso é urgente e não é mais hora de apontar dedos: somos todos interdependentes. Zerar as emissões de gases do efeito estufa e corrigir injustiças sociais exigirá esforços semelhantes àqueles que realizamos desde o início da pandemia, mas que deverão ser mantidos por vários anos e décadas, em uma escala muito maior.

Para realizar a transição energética e alcançar a neutralidade de carbono no mundo até 2050, seria necessário um aumento nos gastos de capital e nos gastos do consumidor com bens duráveis em cerca de 60 por cento acima do atual – passando de US $ 5,7 trilhões para US $ 9,2 trilhões ao ano. Não está claro ainda como o financiamento para esse enorme volume de capital será obtido e os custos de curto prazo dessa transição devem ser comparados aos custos de mudanças climáticas irrefreadas a longo prazo.

Líderes do setor privado têm um papel central neste debate sobre a definição dos rumos do capital. Para ir além do discurso de boas intenções e entrar no território da prática e da mudança relevante, é preciso definir metas claras de crescimento com inclusão e sustentabilidade, que visem gerar impactos positivos, diminuir os impactos negativos e compensar o que não pode ser reduzido. Tudo isso gerenciando de forma granular a geração de caixa e a liquidez. Com uma visão realista do ponto de partida da empresa, os líderes podem desenvolver cenários para as várias versões do futuro da organização, estabelecer a postura da empresa e o direcionamento da jornada como um todo, definir os pontos de gatilho que disparam as ações no momento certo e determinar quais ações e movimentos estratégicos seriam adequados e robustos nos diferentes cenários.

Por exemplo, uma boa estratégia de descarbonização de longo prazo dependerá de ações audaciosas em duas áreas. A primeira é operacionalizar os esforços de redução das emissões usando tecnologias e abordagens conhecidas. A segunda implica grandes apostas explorando novas oportunidades técnicas, estratégicas e de mercado, como reavaliar portfólios, vender ativos, sair de certos negócios ou substituir suas grandes apostas em termos de regiões, produtos e processos. No tema da inclusão, pesquisas da McKinsey sugerem que empresas com políticas de inclusão e diversidade observam melhorias significativas em seu desempenho. Os exemplos de boas práticas se multiplicam quando a iniciativa privada toma consciência de sua responsabilidade pública na busca por um bem comum.

O ser humano teve uma capacidade impressionante de dominar seu meio. Precisamos agora ser igualmente engenhosos para cumprir a grande missão de nossa época, que é assumir a responsabilidade com as próximas gerações e restabelecer a conexão com o organismo vivo do qual somos parte. Nunca realizamos uma transformação tão grande em um período de tempo tão curto. Para as empresas e indivíduos prosperarem, é imperativo focar agora em crescimento inclusivo e sustentável. E você, como líder, tem um papel fundamental nesta empreitada.

Reinaldo Fiorini é sócio sênior e Managing Partner da McKinsey no Brasil.

Tracy Francis é sócia sênior e líder global de branding, comunicação e marketing da McKinsey.

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