As siderúrgicas brasileiras estão vivendo uma ‘tempestade perfeita’: a demanda está fraca, os preços do aço estão em queda constante e o nível de rentabilidade está próximo do low histórico. 

Para piorar, o aumento expressivo das importações de aço (que subiram quase 60% ano contra ano) está adicionando ainda mais pressão no setor — que já fala em centenas de demissões e não para de bater na porta do Governo pedindo maiores tarifas de importações. 

“Em todos esses anos cobrindo o setor, não conseguimos lembrar de um trimestre tão depressivo para as siderúrgicas brasileiras como esse,” escreveu o BTG Pactual.

Os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner dizem que sua convicção para recomendar as ações do setor também está no low dos últimos anos — e que há melhores oportunidades em outros setores.

“A Gerdau é o nosso único ‘buy’ no setor, mas os downgrades contínuos dos lucros devem pressionar o desempenho das ações no curto prazo,” diz o relatório. 

O BTG tem um preço-alvo de R$ 24,5 para a Gerdau, um potencial de alta de apenas 5,6% em relação ao preço de tela. Já para a CSN e Usiminas, o banco tem recomendação ‘neutra’ e preço-alvo de R$ 14,86 e R$ 7,5, respectivamente. A CSN negocia hoje a R$ 16,08 e a Usiminas a R$ 7,88. 

Os analistas notam que as margens EBITDA das três empresas estão “inaceitavelmente baixas”.

“Mesmo a Gerdau, que é referência na indústria e de longe a que tem as maiores vantagens competitivas, reportou uma margem EBITDA da unidade brasileira de apenas 13% no terceiro trimestre,” escreveram os analistas. “Esses níveis só foram atingidos durante períodos de recessão (como o governo Dilma) e se comparam a margens históricas de 18-20% para o meio do ciclo.”

A situação da CSN e Usiminas está ainda pior, com a CSN reportando uma margem EBITDA de míseros 3,4%, e a Usiminas operando com margem negativa. 

O BTG disse que, dado esse cenário, entende porque as siderúrgicas brasileiras estão tão vocais sobre a necessidade de ajuda do governo em meio ao crescimento das “importações predatórias” no País. 

“Com as exportações do aço chinês batendo em 90 Mtpa em 2023 (2x o montante do ano passado), há um argumento razoável de que há um excesso no mercado,” diz o relatório. “Por exemplo, as importações de aço plano subiram 60% este ano no Brasil, colocando em risco centenas de empregos na indústria.”

Os analistas dizem ainda que já tem visto diversas economias adotando medidas protecionistas contra as importações do aço chinês, e que o imposto de importação do Brasil (de 10% a 12%) é muito inferior ao de países importantes. Nos EUA, por exemplo, esse imposto é de 25%. 

“Mas ainda que a gente entenda os argumentos, a gente não incorpora um imposto mais alto nos nossos modelos, já que acreditamos que outros lobbies terão mais poder de barganha com o Governo do que as siderúrgicas nesse momento.”

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Enquanto a Gerdau sofreu hoje, caindo mais de 4%, a CSN e a Usiminas subiram 10% e 3%, se beneficiando de um upgrade do Bank of America para todo o setor de mineração, da Vale a CSN, passando pela Ternium e pela Usiminas.

O BofA acredita que o minério de ferro deve passar por mais um rali nos próximos meses, atingindo o patamar de US$ 150/tonelada no primeiro trimestre do ano que vem.

Isso deve acontecer porque as “usinas devem ser forçadas a comprar no mercado já que elas estão persistentemente com estoques baixos.”