A Restoque —  dona das marcas Le Lis Blanc Deux, Bo.Bô, John John e Dudalina — anunciou esta manhã que não vai mais se fundir com a Inbrands, controlada pela Vinci Partners.

Uma pessoa envolvida nas conversas disse que o que precipitou o rompimento foi a briga societária na Restoque, que opõe os fundadores da empresa, Marcio Camargo e Marcelo Lima, aos fundos de private equity Advent e Warburg Pincus.
 
“Dado tudo que está acontecendo lá, ficou claro que eles não tinham condições de aprovar esse negócio,” disse uma fonte próxima à Inbrands.
 
As negociações para a fusão andavam no proverbial ‘devagar quase parando’, e as duas empresas nem chegaram a entrar na fase de diligência.

Há algumas semanas, o BTG Pactual, assessor da Inbrands, estabeleceu um prazo para, entre outras coisas, ter acesso ao data room da Restoque. O deadline chegou, e a Restoque não saiu do lugar.

 
A fusão — que iria juntar a Richards, Ellus, Salinas e Mani, marcas da Inbrands, com o portfólio da Restoque — prometia gerar valor dadas as sinergias entre as duas operações.
 
O Advent e o Warburg Pincus se ressentem de Camargo e Lima terem tentado um takeover hostil da companhia.
 
Os fundos entraram na Restoque no fim de 2014, na fusão da empresa com a Dudalina, então controlada por eles.  Pós-fusão, os dois fundos passaram a deter 42% do capital; Camargo e Lima ficaram com 14%.

No início deste ano, com a ação da Restoque negociando ao preço de um botão de camisa, a Artésia (veículo de investimento de Camargo e Lima) recomprou quase todas as ações em circulação.  Os fundos de private equity compraram mais 1% cada, e hoje têm 44,5%. Por meio de outros veículos — na FAMA Investimentos e na corretora Planner — e de ações sob sua esfera de influência, Camargo e Lima têm uma participação adicional na Restoque.  Na estimativa de alguns gestores, o grupo ‘Camargo, Lima & friends’ controla 51% da empresa.

 
A liquidez do papel é mínima.  O free float — as ações realmente nas mãos do mercado — é de apenas 6%, o que distorce os preços e impede que se saiba o valor real da companhia.
 
Outras fontes ofereceram uma explicação mais detalhada para o fracasso da fusão. Segundo eles, a Restoque queria que a Inbrands reduzisse sua própria alavancagem como condição precedente para o negócio. A Vinci teria concordado, desde que a própria Restoque fizesse o mesmo. Como Camargo e os fundos resistiam a colocar mais dinheiro (em função da briga societária), a Inbrands teria decidido seguir sozinha.

No fim de junho, a Restoque tinha uma dívida líquida de R$ 760 milhões.