As ações da BRF estão em queda de 11% essa manhã depois que dona das marcas Sadia e Perdigão divulgou o que os analistas consideram o pior resultado da companhia em muito tempo.sadia

A margem de lucro operacional da BRF no Brasil ficou em 5,7%, a pior margem desde o primeiro trimestre de 2011, quando a empresa começou a reportar a rentabilidade de cada negócio separadamente.

No mesmo trimestre do ano passado, a margem tinha sido 10,8%.

O resultado vai relançar o debate no mercado sobre a natureza cíclica do negócio da BRF. Nos últimos anos, a Tarpon Investimentos, o principal acionista da BRF junto com os fundos de pensão Petros e Previ, tem tentado transformar o que é essencialmente um negócio de commodities — portanto cíclico e exposto a altos e baixos — em uma empresa de marcas, uma estratégia que permitiria à empresa cobrar mais pelos seus produtos e ter resultados mais estáveis.

A grande questão confrontando a empresa é se, no final deste percurso, a BRF será uma Nestlé dos trópicos… ou um frigorífico turbinado.

A BRF disse que a margem do terceiro trimestre foi impactada pelo relançamento da marca Perdigão, que estava fora do mercado há quase quatro anos por determinação do CADE. Mas a leitura do mercado foi de que a BRF não está conseguindo aumentar seus preços acima do aumento de seus custos.

O custo do investimento na marca Perdigão pode ser diluído na medida em que a companhia começar a vender volumes maiores, mas os analistas esperam que, pelo menos no curto prazo, a rentabilidade continue pressionada. Neste último trimestre do ano, por exemplo, costuma haver muita competição nas gôndolas de supermercados com base em preço, e as empresas têm que gastar para promover suas marcas para as festas de Natal e Ano Novo.

“Acreditamos que a BRF está muito focada em recuperar participação de mercado em detrimento de sua rentabilidade de curto prazo,” um analista da Merrill escreveu para clientes. “Em nossa opinião, esse cenário traz riscos substanciais para nossas estimativas para 2016 e 2017.”

O temor de que a BRF perdeu mais mercado do que se imagina foi alimentado pelo fato de que, surpreendentemente, a companhia decidiu não reportar sua partcipação no mercado no trimestre, alegando que a Nielsen ainda não está capturando as vendas da marca Perdigão.

Outro problema para a empresa: o preço dos grãos, o principal insumo para a criação das aves, subiu 30% nos últimos meses com a desvalorização cambial, o que pode obrigar a empresa a subir preços em mais de 10% para recompor suas margens. A maioria dos analistas acredita que este custo mais alto ainda não entrou nas margens da empresa.

Para compensar o quadro, a BRF anunciou um novo programa de recompra, desta vez de 15 milhões de ações. A empresa também disse que suas operações no Oriente Médio estão performando acima do esperado.

Várias corretoras cortaram sua recomendação de compra para a ação, e previram que a companhia deve negociar a múltiplos mais baixos daqui para frente. Antes da queda de hoje, a ação da BRF negociava a cerca de 20 vezes o lucro da empresa. Às 13 horas, a ação já havia negociado quase quatro vezes seu giro médio diário.