A notícia de que o Reino da Arábia Saudita aumentou de 5% para 20% a tarifa de importação de produtos in natura derrubou a ação da BRF em 5% nesta sexta.
Mas ao longo da tarde, a empresa ofereceu a investidores uma versão mais construtiva sobre o impacto do aumento, que coincide com os planos de IPO da OneFoods, o negócio da BRF no Oriente Médio.
Além de dizer que já repassou o imposto maior para o preço do frango exportado do Brasil para a Arábia — em 28 de dezembro, quando ficou sabendo da nova alíquota — a BRF fez um retrospecto de eventos recentes no mercado saudita, disseram investidores que conversaram com a empresa.
Segundo a BRF, como parte de um ajuste fiscal causado pelo petróleo em baixa, no ano passado a Arábia Saudita havia retirado subsídios de seus produtores locais, o que conferiu uma vantagem competitiva a importadores como a BRF. Assim, o aumento do imposto de importação agora parece ter como objetivo contrabalançar aquele ganho, retornando todos os players a sua situação competitva anterior.
Além disso, mesmo que o produtor local tenha algum beneficio, ele não compete com a BRF em grande escala. Cerca de 85% das vendas dos produtores locais são feitas para órgãos governamentais como escolas e hospitais públicos. Apenas 15% da produção local concorre diretamente com o produto importado.
A BRF também disse a investidores que a nova alíquota pode melhorar a posição competitiva da empresa graças a sua mega planta em Abu Dhabi, inaugurada em 2014 e ainda em processo de ramp up. Isso acontece porque os produtos daquela planta — cortes marinados, hambúrgueres — são processados, e portanto não estão sujeitos à nova alíquota, que incide apenas sobre produtos in natura. No fim do dia, segundo investidores, a empresa acha que seus processados podem ganhar share ou ela pode decidir elevar preços e ganhar margem.
Hoje, apenas 10% das vendas da BRF no Oriente Médio são produtos processados; como eles têm margens maiores, a companhia quer ser agressiva em aumentar essa penetração.
O IPO da OneFoods — até semana passada conhecida como ‘Sadia Halal’ — deve acontecer ainda no primeiro semestre. Segundo a Reuters, a BRF espera levantar US$ 1,5 bilhão com a venda de uma participação de 20% na OneFoods.
A nova empresa — um recorte de ativos que inclui oito plantas da BRF no Brasil, a planta de Abu Dhabi e participações em empresas de distribuidoras no Oriente Médio — é responsável por cerca de 20% do faturamento da BRF e 25% de sua geração de caixa. (No mundo muçulmano não se come porco e a carne bovina é muito cara, o que torna o frango o carro-chefe das refeições de proteína.)