O Governo Bolsonaro acaba de abrir mais uma crise numa das maiores estatais do País: a Eletrobras.

A União nomeou Rodrigo Limp Nascimento, secretário de energia elétrica do Ministério de Minas e Energia e ex-diretor da ANEEL como próximo CEO da companhia.

Na tarde de hoje, o conselho da Eletrobras recomendou o nome por sete votos a três.

Rodrigo tem currículo para o cargo, mas não constava da lista de candidatos preparada pela Korn Ferry, que foi contratada pela Eletrobras para assessorar na escolha do novo CEO depois da renúncia de Wilson Ferreira.

Apesar disso, Rodrigo “foi avaliado e recomendado pelo Comitê de Pessoas, Elegibilidade, Sucessão e Remuneração, entrevistado e aprovado, por maioria, pelo Conselho de Administração, e atende aos requisitos legais e de qualificação técnica necessários para o cargo,” a Eletrobras disse agora à noite.

Contrariado com a decisão, o conselheiro Mauro Cunha, que representa os minoritários, renunciou.  Em sua manifestação de voto, Cunha disse que a escolha de Rodrigo “desviou do processo sucessório com o qual este conselho se comprometeu.” 

Segundo Cunha, a Eletrobras “ignorou a opinião formal da consultoria externa independente contratada para nos assessorar neste processo, no sentido de que ‘não recomenda o candidato para o cargo de Diretor Presidente’.” 

A decisão da Korn Ferry de não recomendar Rodrigo surpreendeu um analista do setor. “A competência dele é inquestionável, ele conhece o setor como poucas pessoas e é convicto da necessidade de capitalização da Eletrobras. É um cara trabalhador, honesto, do  bem, e fez um trabalho muito bom na ANEEL.” 

A alta tensão na Eletrobras — que vem pouco depois da troca de comando na Petrobras e do desgaste com o Planalto que levou à renúncia do CEO do Banco do Brasil — pode azedar ainda mais a visão de investidores internacionais sobre o Brasil.

No rescaldo do drama na Petrobras, um investidor internacional com participação em diversas grandes companhias brasileiras disse ao Brazil Journal que o Governo está subestimando a importância do ESG na alocação de capital dos investidores institucionais globais.

“Nosso pessoal de ESG veio me perguntar se não deveríamos vender tudo que temos no Brasil já que a governança no País está tão (shitty). Eles disseram, ‘Isso está cada vez mais parecido com a Rússia.’ Eu expliquei a eles que o Brasil não é a Rússia. Na Rússia, o Presidente pode tudo, e o Legislativo e o Judiciário apenas carimbam. No Brasil, é o Judiciário que tem mais poder.”