A Energisa está pagando quase R$ 1 bilhão por participações minoritárias em cinco distribuidoras de gás do Nordeste — dobrando sua aposta num mercado em que a companhia entrou no ano passado com a aquisição da ES Gás, do Espírito Santo, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
O movimento – que torna a Energisa sócia da Mitsui e dos governos estaduais nestes ativos – amplia o mercado endereçável da companhia e cria o terceiro grande grupo privado de gás.
Enquanto a Compass, do grupo Cosan, é a consolidadora clara do Centro-Sul do País, e a Termogás – do empresário Carlos Suarez – é dominante no Centro-Oeste e Norte, a Energisa agora se posiciona como a consolidadora do Nordeste.
As participações compradas pela Energisa estão reunidas numa empresa chamada Norgás e pertenciam à Infra Investimentos, uma holding controlada pelo empresário João Henrique Cordeiro Guerra, que também tem investimentos em concessões aeroportuárias e é sócio da BP na venda de combustível de aviação em alguns aeroportos, incluindo Congonhas.
A Infra Investimentos, por sua vez, havia comprado esses ativos da Compass, que era dona de um pacote ainda maior de participações como resultado da compra do controle da Gaspetro há três anos.
Quando o CADE impôs restrições àquela transação, o remédio do órgão antitruste forçou a Compass a cindir suas participações nas distribuidoras do Nordeste, dando origem à Norgás, e ficando com as distribuidoras do Sul e Sudeste.
Nessa operação, a Infra Investimentos comprou a fatia de 51% que a Compass tinha na Norgás, e a Mitsui manteve seus 49%.
A Norgás tem participações minoritárias em quatro das cinco distribuidoras – a Algás, em Alagoas, a Sergás, em Sergipe, a Cegás, no Ceará, e a Copergás, em Pernambuco, que são controladas pelos governos estaduais – e 83% da Potigás, no Rio Grande do Norte.
O potencial de crescimento é enorme, para dizer o mínimo. O índice de cobertura no Nordeste – as residências que já têm gás encanado – é de apenas 1,5%.
Ainda que a Energisa tenha apenas participações minoritárias nos ativos num primeiro momento, a transação vai permitir que a companhia entenda melhor este mercado e se posicione para aumentar sua fatia no caso de uma venda da Mitsui ou de uma privatização. (Nas duas situações, a Energisa terá o direito de preferência).
“É um jeito deles colocarem o pé lá, e de já conseguirem entregar uma diversificação do negócio, que era algo que eles vinham prometendo ao mercado,” disse uma fonte envolvida na transação.
Apesar das participações serem minoritárias, o acordo de acionistas das distribuidoras – desenhado em 1988 pela Petrobras – garante uma série de direitos de veto ao acionista minoritário e dá à Energisa o direito de nomear o diretor técnico-comercial das distribuidoras – um cargo-chave para as operações, já que é o responsável pela compra de gás e pela definição da expansão da rede. (Pelo acordo, a Mitsui nomeia o CFO, e o governo estadual nomeia o CEO).
O acordo de acionistas também prevê que as decisões de conselho sejam tomadas sempre por uma maioria de 6 votos – num conselho de 7. (Dos conselheiros, cinco são indicados pelo Governo, 1 pela Energisa e 1 pela Mitsui).
A transação vem três meses depois da Energisa levantar R$ 2,5 bilhões num follow-on que saiu a R$ 49,80. O papel fechou hoje a R$ 47,56, com a companhia valendo R$ 24,6 bilhões.
Com a compra de hoje, a Energisa desembolsa perto de 40% dos recursos captados.
A compra saiu a um múltiplo de cerca de 10x EBITDA, considerando o EBITDA proporcional à participação que a Energisa está comprando.
No total, as cinco distribuidoras tiveram uma receita de R$ 3,5 bilhões no ano passado, com EBITDA de R$ 330 milhões. As concessões têm mais 20 anos de duração e atendem cerca de 230 mil consumidores.
Na reta final da negociação, a Energisa estava disputando o ativo com o Grupo Edson Queiroz – dono da Nacional Gás Butano, uma das maiores empresas de GLP (o gás em botijão) do País – que tem foco no Nordeste e estava tentando expandir sua atuação.
O BTG Pactual assessorou a Infra Investimentos, que teve a assessoria legal do Mayer Brown.
A Energisa não trabalhou com bancos, mas teve o Stocche Forbes como assessor jurídico.