A Cosan anunciou uma ampla reorganização que simplifica sua cadeia societária, confere o mesmo direito de voto a todos os acionistas e pode levar ao IPO da Raízen, Compass e Moove — suas três companhias ainda fora da Bolsa.
Ao final da operação, que precisa ser aprovada por comitês independentes de cada empresa, o veículo sobrevivente será a Cosan, com sede no Brasil.
Tanto os acionistas da Cosan Limited (CZZ) — o veículo de controle listado em Nova York — quanto os da Cosan Logística (RLOG3, a controladora da Rumo) receberão ações da Cosan (CSAN3) ou ADRs da companhia.
O ‘colapso’ — como a simplificação societária é comumente chamada — é um velho pleito dos acionistas minoritários. Em 2007, dois anos depois de levar a Cosan para a Bolsa, Rubens Ometto migrou sua participação a CZZ, na qual uma classe especial de ações lhe dá 10 vezes mais poder de voto que os outros acionistas.
À época, Rubens achava que poderia perder o controle da Cosan na medida em que a companhia — então uma produtora de açúcar e etanol — precisasse emitir mais ações para levantar caixa e diversificar seu portfólio.
Treze anos depois, a Cosan multiplicou seu valor de mercado por cinco (sem contar o valor criado na Rumo), entrou em distribuição de combustíveis, distribuição de gás e ferrovias sem nunca ter feito um aumento de capital relevante. Ao final, nem os acionistas da Cosan nem os da CZZ foram diluídos, porque todo o crescimento foi financiado com dívida em vez de equity.
Agora, a decisão de fazer o colapso sugere que Rubens ficou confortável em exercer o controle de fato com uma participação na Cosan que, nas contas rápidas de um analista, deve ficar em cerca de 43% (incluindo sua família, os executivos e os Rezende Barbosa, seus sócios históricos).
“Eu sempre disse ao mercado que era meu desejo fazer essa simplificação, mas que eu só faria quando isso me desse condições de manter o controle, porque eu acredito que empresa tem que ter dono,” Rubens disse agora há pouco ao Brazil Journal.
No Fato Relevante, a Cosan disse que “pretende preparar suas principais subsidiárias operacionais e companhias co-controladas para a eventual realização de ofertas públicas iniciais de ações. A viabilidade e o momento das potenciais ofertas de cada companhia são diferentes e a efetiva listagem dependerá de inúmeras condições que poderão ser alheias à vontade da Cosan.” Mas acrescentou a intenção é estar preparada caso essas condições sejam satisfeitas.
A transação anunciada hoje acontece depois da CZZ passar os últimos anos aumentando sua participação na Cosan e recomprando suas próprias ações. A CZZ tem cerca de 66% da Cosan, e Rubens e família têm cerca de 53% da CZZ.
O colapso deve aumentar substancialmente a liquidez da Cosan e acabar com os descontos de governança e de holding que pesam sobre a companhia. A CZZ negocia a um desconto histórico de mais de 20% sobre a soma de suas partes — um ‘gap’ que bateu 48% em momentos de stress.
Sobre a estratégia da empresa pós-colapso, Rubens disse que “cada empresa do grupo tem sua agenda e sabe aproveitar as oportunidades.” E o seu papel? “Eu sou aquele velhinho que fica cutucando a molecada.”
O BTG Pactual é o assessor exclusivo da Cosan Limited na reorganização.