A Casas Bahia acaba de anunciar que concluiu uma negociação com seus credores para a conversão de parte de sua dívida — um movimento que vai reduzir a alavancagem da companhia pela metade num momento em que as despesas financeiras têm consumido todo o EBITDA.

A Casas Bahia tem hoje uma dívida bruta de R$ 4,5 bilhões, com uma alavancagem de 1,6x EBITDA. 

A companhia vai converter em ações toda a série 2 da sua 10º emissão de debêntures (que totaliza R$ 1,5 bilhão). 

Hoje essas debêntures estão nas mãos do Bradesco e do Banco do Brasil, mas os dois bancos vão vender os papéis para um outro player financeiro, que se tornará o maior acionista da Casas Bahia. A identidade deste investidor não foi revelada.

A conversão será feita a um desconto de 20% sobre a média do preço da ação nos 90 pregões anteriores à data do closing da operação. 

Se o closing fosse hoje, por exemplo, a conversão geraria uma diluição de 77,5%, com o novo player ficando com essa participação na empresa. Já a participação da família Klein, que hoje tem 21% da empresa, cairia para menos de 5%. 

Como parte do acordo, este player financeiro não revelado se comprometeu com um lockup gradativo de 16 meses. No primeiro tri, ele poderá vender até 10% da posição, no segundo, mais 15%, e assim por diante. 

Na negociação, a Casas Bahia também conseguiu melhorar os prazos da série 1 das debêntures, que soma R$ 1,6 bi. Esta série também está concentrada no Bradesco e no BB, que juntos têm 54% dos títulos. 

A carência de juros e do principal, que vencia em novembro de 2026, foi alongada por um ano. O chairman da Casas Bahia, Renato Carvalho, disse ao Brazil Journal que isso vai gerar um benefício adicional de fluxo de caixa de R$ 400 milhões nos próximos 24 meses. 

O Bradesco e BB também se comprometeram a manter as linhas de CDCI — usadas para financiar o crediário da varejista — por mais um ano, além dos dois anos que os bancos já haviam se comprometido. 

Após este movimento, a dívida bruta vai cair para R$ 2,9 bi, e a alavancagem para 0,8x EBITDA.

A reorganização da estrutura de capital vem num momento em que as despesas financeiras têm consumido todo o EBITDA das Casas Bahia. No ano passado, essas despesas somaram mais de R$ 2 bi; no primeiro tri deste ano, foram de mais de R$ 600 milhões.

O CEO Renato Franklin disse que de imediato a conversão das dívidas vai reduzir as despesas financeiras em cerca de R$ 230 milhões por ano.

“Tem esse ganho imediato, mas também tem ganhos que vamos capturar no médio prazo,” disse o CEO. “Hoje temos tido que usar mais a linha de risco sacado para o nosso capital de giro, que é mais cara. Com a melhora da estrutura de capital, vamos conseguir ter acesso a linhas bem mais baratas.”

A Casas Bahia vale menos de R$ 400 milhões na Bolsa, com sua ação caindo 35% nos últimos doze meses. No ano, o papel sobe 41%.