A Braskem tomou ontem à noite seu segundo downgrade de crédito em três dias, perdendo seu grau de investimento num momento em que a empresa enfrenta o triplo desafio de lidar com uma alta alavancagem, a tragédia em Maceió e um ciclo petroquímico desfavorável.

A Fitch rebaixou a Braskem de BBB- para BB+, a primeira nota do grau especulativo. O mesmo aconteceu com suas subsidiárias nos EUA (BBB- para BB+) e na Holanda (BB para BB-).

Todos os ratings agora têm perspectiva negativa.

A Fitch citou o crescimento dos riscos ambientais e a possibilidade de novas multas serem aplicadas pelo governo de Alagoas.

A Braskem pode ter que pagar mais R$ 1 bilhão em indenizações pelo colapso de sua mina de sal-gema em Maceió. Antes disso, a empresa já havia concordado em pagar R$ 1,7 bilhões à cidade – mas a Prefeitura já disse que quer revisar este valor.

Não bastasse o desastre ambiental, a Braskem segue sofrendo com o ciclo de baixa do setor petroquímico, o que vem fazendo sua alavancagem disparar. A Braskem fechou o terceiro tri com uma alavancagem de 12x o EBITDA dos últimos 12 meses.

A Fitch estima que a empresa apresentará free cash flow negativo até 2025.

A notícia do rebaixamento não foi uma surpresa. Na terça-feira, a Moody’s já havia cortado a nota de Ba1 para Ba2 – ambas no grau especulativo.

Há duas semanas, no entanto, a Braskem decidiu descontinuar o rating de crédito da Moody’s alegando redução de custos.

“É como se a Braskem quisesse cortar o cafezinho. Foi uma desculpa muito estranha,” disse um executivo do setor. (Apesar do corte, a Moody’s vai continuar cobrindo o crédito da empresa.)

A Braskem ainda é grau de investimento pela S&P, mas o mercado assume que a agência acabará seguindo pelo mesmo caminho das outras.

O rebaixamento vem num momento em que a Braskem está capitalizada (emitiu US$ 1,8 bilhão em bonds em 2023), tem uma dívida longa (40% a serem pagas em 2029 e 53% depois de 2032) e uma posição de caixa bruto de R$ 18,7 bilhões.

Por isso, a visão de parte do mercado é que a empresa pode ultrapassar essa tempestade se não houver novas surpresas – o que é uma incógnita, dada a situação em Maceió.

“Estamos preocupados com a disponibilidade da linha de crédito de emergência da Braskem, especialmente porque as multas podem aumentar”, escreveu o analista Rodrigo Almeida, do Santander, que tem um rating neutro na ação da empresa.

Se e quando a Braskem precisar acessar o mercado de capitais, o grau especulativo sujeitará a empresa a diversos covenants, e “os investidores vão cobrar o olho da cara,” disse essa fonte.

Enquanto isso, o processo da venda da fatia da Novonor segue em compasso de espera, com a Adnoc, a petroquímica de Abu Dhabi, tida como o único cavalo na corrida.

No evento da Braskem precisar de um aumento de capital, é praticamente um consenso no mercado de que a Petrobras aproveitaria para aumentar sua participação na empresa, deixando-a mais perto de uma estatização.

Com todos os problemas que a Braskem vem enfrentando, uma coisa é clara: “Tudo isso vai ter que passar por uma due dilligence e vai tirar ainda mais valor da companhia,” disse uma fonte do setor.

A ação da Braskem cai quase 30% nos últimos 12 meses. A empresa vale R$ 13,65 bilhões na B3.