Fernando Ribeiro, fundador da Kobold, tem uma ideia de como salvar milhões de pequenos empreendedores da falência do coronavírus — uma solução prática e barata que usa ferramentas já existentes.

A solução: securitizar parte do que as PMEs tipicamente faturam contra seus grandes clientes — com o governo participando apenas como garantidor dos eventos de não-performance, o que reduziria drasticamente a necessidade de desembolso público e seria, essencialmente, uma solução de mercado. 

Com mais de 25 anos operando no mercado de crédito privado, Ribeiro transformou a Kobold, originalmente uma gestora de FIDCs, em uma plataforma de infraestrutura de crédito. Mas a solução que ele propõe pode ser plugada em qualquer plataforma, desde que use intensamente dados como fator de mitigação de risco. 

“As grandes empresas precisam preservar suas cadeias de fornecimento, senão elas não conseguem voltar ao normal depois,” diz Ribeiro. 

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Num exemplo prático, imagine uma Varejista X que tenha um contrato de fornecimento com uma Confecção Y.  Essa confecção hoje está parada e não sabe quando voltará a operar. “Toda grande empresa conhece profundamente sua cadeia de fornecedores e, por isso, é ela quem detém a melhor inteligência sobre os fluxos financeiros, as chances de sobrevivência e a relevância de cada parceiro em seu ecossistema,” diz Ribeiro.

Munido dessas informações, é possível construir contratos de fornecimento futuros com valores e prazos adequados, que podem ser antecipados com a criação de FIDCs, exclusivos ou já existentes, dando à confecção o capital de giro para continuar operando. 

A antecipação dos recebíveis começaria a se auto liquidar quando a varejista voltasse a fazer pedidos. Assumindo que o fornecimento volte inicialmente em 25% do que era, depois 40%, e assim por diante, ele estima que a operação poderia se autoliquidar entre 15 e 18 meses. “O que estamos propondo é o equivalente, para o mercado de crédito, aos hospitais de campanha.”

Ainda assim, como os recebíveis a serem descontados seriam ainda ‘a performar’ (ou seja, referentes a mercadorias não produzidas), o risco é maior por definição, daí a necessidade da garantia governamental para manter o custo em níveis razoáveis. 

Se antes da crise uma pequena empresa conseguia descontar recebíveis de um grande cliente a uma média de 2% ao mês no mercado, Ribeiro estima que, com uso da inteligência e segurança jurídica, seria possível fazer o mercado voltar a funcionar ao redor de 0,8% ao mês, mesmo com o custo de captação atualmente mais elevado.

“O Governo não estaria dando dinheiro para os grandes, e sim ao redor deles, mas precisamos da participação dos grandes para que o sistema funcione,” diz Ribeiro. “O Governo pode botar isso de pé chamando os líderes de cada setor: Nestlé, Pão de Açúcar, Renner, Volkswagen, Mercedes… Eles próprios escolheriam as gestoras e estruturas que julgarem apropriadas.” 

Mas para que o Governo possa agir como garantidor, o Congresso teria que aprovar o comprometimento de recursos públicos, afinal “o efeito contábil de dar dinheiro ou de entrar como garantidor de uma operação é o mesmo no balanço da União,” diz Maria Guido, advogada do Mattos Filho. “Mas sabemos que o momento é propício para iniciativas nesse sentido.”

Desde que a crise começou, o Governo anunciou linhas específicas para PMEs, mas os parâmetros de concessão são muito amplos, e não usam a inteligência que existe dentro da própria cadeia de uma determinada indústria. 
 
“A grande empresa é o canal de acesso, é a capilaridade já existente. Quando o Governo oferece ajudar com duas folhas de pagamento para funcionários que ganham até dois salários mínimos, isso não resolve o problema do pequeno e médio, porque seus custos são muito maiores do que isto,” diz Ribeiro. 

Além disso, os filtros existentes, como o faturamento da empresa, acabam limitando o acesso a muitos empreendedores. 

Dar crédito usando estruturas de mercado já existentes e a inteligência detida pelos líderes de cada indústria “é dar o remédio na dose que cada um precisa, em vez de jogar dinheiro de helicóptero,” diz Ribeiro.  

 

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