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Nove em cada dez empresas da última safra de IPOs estão com seus papéis debaixo da água — valendo (bem) menos que na oferta inicial.
A Irani Papel e Embalagem não é uma delas.
Desde seu re-IPO em julho de 2020, a ação valorizou quase 80%, dando à fabricante de embalagens sustentáveis um valor de mercado de R$ 1,7 bilhão e distribuiu dividendos robustos, de 6,6% de dividend yield nos últimos 12 meses.
A empresa mais que dobrou seu EBITDA em dois anos — de R$ 220 milhões para mais de R$ 550 milhões conforme números reportados do segundo trimestre deste ano. O ROIC – retorno sobre o capital investido – foi de 25,5% ao ano.
Por trás desse resultado está o crescimento do e-commerce, a demanda de embalagens sustentáveis para alimentos, maior mercado das embalagens da Irani, e um shift global do plástico para o papel.
“Somos a única empresa de embalagem listada na Bolsa,” diz o CFO Odivan Cargnin, na empresa há 27 anos e há 17 como CFO. “Tem a Klabin, mas 40% do business é celulose. Tem a Suzano, mas é quase tudo celulose. Nosso negócio não tem nada a ver com o deles, pois o nosso é 90% de embalagens sustentáveis com foco no mercado interno, especialmente para alimentos.”
89% da receita da Irani é papel. Papel pra tudo. Das caixas que os frigoríficos usam para embalar sua carne ao saquinho de pão da padaria, passando pela sacolinha marrom das lojas de varejo dos shoppings.
Até recentemente, as grandes redes de vestuário, por exemplo, usavam sacolinhas de plástico para o consumidor levar a roupa que comprou. Não mais.
Nos últimos anos, elas têm migrado para as embalagens de papel, “que são muito mais sustentáveis e têm uma qualidade maior,” disse o CFO. “Quem não migrou ainda é por uma questão de custo ou por falta do entendimento das questões de sustentabilidade”.
O mercado brasileiro de embalagens movimenta R$ 110 bilhões. Desse total, 31% já são embalagens sustentáveis (como as da Irani), mas há ainda 37% de embalagens de plástico.
A inovação é uma das grandes barreiras — já que ainda faltam soluções de papel para alguns tipos de embalagem – mas a Irani tem se movimentado nessa frente.
Recentemente, a empresa desenvolveu um papel biodegradável, reciclável e resistente a vazamentos e condições climáticas adversas.
Um dos primeiros clientes foi a Nespresso, que escolheu o papel para produzir as sacolas de reciclagem para o descarte das cápsulas. (As sacolas comportam até 100 cápsulas e evitam vazamento durante o uso.)
A Irani passou dois anos fazendo pesquisas, junto com um cliente que converte o papel, para chegar ao material final, conseguindo substituir as sacolas de plástico.
Em todo o mundo, outras gigantes do consumo têm trabalhado para transformar a embalagem de plástico em coisa do passado. A Kraft Heinz, por exemplo, está desenvolvendo uma embalagem à base de fibra de papel para seus produtos — incluindo seu tradicional ketchup.
Outro aspecto importante é que a Irani utiliza muito papel usado (aparas de papel) para reciclagem e produzir novas embalagens sustentáveis, no conceito de economia circular. Essa também é uma forte tendência para setor de embalagens.
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Essas tendências macro têm jogado a favor da Irani, mas a empresa também está fazendo sua lição de casa do ponto de vista operacional.
Com o re-IPO, a Irani colocou R$ 400 milhões no caixa, que estão sendo usados para implementar um conjunto de investimentos chamado de Plataforma Gaia. O maior projeto é a construção de uma caldeira de recuperação, que vai permitir usar o licor negro (um subproduto da produção da celulose) para gerar energia renovável, tornando a empresa praticamente autossuficiente em um de seus maiores custos.
Outro é a expansão da fábrica de Santa Catarina, que atende principalmente grandes frigoríficos, que usam as caixas da Irani para o transporte de carne para o mercado interno e externo. (As fábricas da Irani estão operando na capacidade). Também tem um projeto para ampliar a capacidade de produção do papel que é utilizado para produzir os sacos e sacolas para o varejo, que tem uma demanda elevada.
O conjunto dos investimentos da Plataforma Gaia somam aproximadamente R$ 1 bi e começarão a gerar retorno em 2023.
Apesar do bom momento operacional e da performance desde o IPO, a ação da Irani ainda é desconhecida por boa parte do mercado. Apenas BTG, XP e Inter cobrem o papel, além de casas independentes de análise.