Ser digital é uma questão de mudança cultural e não de tecnologia. Tecnologia é um dos elementos importantes, mas nem de longe o mais crítico.
 
A maioria dos processos de transformação digital falha porque as companhias não conseguiram criar uma cultura digital, e não por falta da tecnologia necessária. 
 
Analisamos as empresas que tiveram sucesso na transformação e encontramos os 10 elementos que definem uma cultura digital.

1)      Ser uma organização em que o cliente está no centro de todas as decisões
Ter centralidade no cliente significa estar sempre obstinado para entender as necessidades dele (antes mesmo do primeiro ponto de contato) e qual será seu próximo passo para satisfazê-las. Empresas que encontram sucesso neste campo têm receitas, em média, 2,5 vezes maior e um retorno ao acionista 1,4 vez superior.

2)      Tolerar o risco controlado e valorizar fontes de aprendizado em iniciativas digitais
Incentivar a experimentação e usá-la como fonte de aprendizado é fundamental para lidar com um ambiente muito dinâmico e variável como o digital. Não é um salto no escuro: hoje, ferramentas analíticas já permitem testar modelos de negócios e produtos rapidamente, sem grandes exposições a riscos.

3)      Empoderar equipes para tomar decisões importantes

Em um mundo previsível, onde você tem que tomar uma ou duas decisões por mês, uma pessoa consegue fazê-lo. No mundo atual, são centenas de decisões que devem ser tomadas simultaneamente. Ser confiante e saber delegar com alinhamento aos objetivos da empresa é fundamental, pois os líderes não conseguirão resolver tudo sozinhos e a tempo.

4)      Garantir que os funcionários possam atuar e reagir rapidamente em cada situação
Steve Blank, empreendedor em série do Vale do Silício, costuma dizer que “a empresa que consistentemente toma e implementa decisões com rapidez ganha uma tremenda, e muitas vezes decisiva, vantagem competitiva.” Existem vários casos de mudança de negócio que apenas aconteceram porque a transformação digital assim o permitiu. Reagir com velocidade é extremamente importante.

5)      Comunicar-se de maneira transparente e honesta com os clientes
Os consumidores, especialmente a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), estão questionando cada vez mais as empresas. Quando encontram sinais de falta de transparência ou incoerência eles tendem a migrar para aquelas marcas que têm uma melhor resposta ou posicionamento mais honesto.

6)      Investir em MVPs e não na versão final
Empresas digitais focam em desenvolver produtos e soluções que priorizem a entrega de valor rápida para o cliente. Isso significa apresentar a primeira versão MVP (minimum viable product), aprender, partir para a segunda versão e assim por diante.

7)      Formar equipes multifuncionais com foco na entrega de valor
O digital é um esporte de equipe — não há espaço para trabalhar de maneira isolada. Equipes multifuncionais com responsabilidade de ponta-a-ponta, próximas ao cliente e com capacidade de adaptação rápida entregam mais e melhor. Um exemplo é a transformação interna realizada pela Microsoft alguns anos atrás. Eles retiraram os rankings de desempenho individual e criaram incentivos para o trabalho conjunto. Hoje, a empresa é reconhecida por analistas, clientes e acionistas como uma companhia colaborativa.

8)      Estar aberto à disrupção
Nenhuma empresa estabelecida está segura contra mudanças abruptas em modelos de negócios. Basta lembrar-se que o maior varejista do mundo, o Alibaba, possui poucas lojas físicas. Toda empresa precisa inovar em sua cultura e possuir um entendimento claro das tendências de mercado e do potencial das novas tecnologias. A disrupção digital é 10 vezes mais inovadora, custa um décimo do valor e tem 100 vezes mais poder do que os modelos antigos de negócio.

9)      Ser orientada por dados
Com a transformação digital é possível fundamentar decisões – que muitas vezes precisam ser rápidas – com base em dados. Lembrem-se do ditado: ‘In God we trust, the other please bring the data’.

10)  Interligar-se a outros ecossistemas de inovação

Empresas que têm uma mentalidade digital criam redes de colaboração com outras empresas, parceiros e até mesmo alianças com competidores. Ao fim e a cabo, ser digital não significa implementar ferramentas, criar squads, tribos e aplicar Scrum. A construção dessa cultura está conectada a uma mudança de mentalidade e ao desejo de reinvenção. Por isso, é fundamental que as lideranças encabecem o desafio dentro das empresas.

Marina Cigarini é sócia sênior da McKinsey e lidera Advanced Analytics na América Latina. Nicola Calicchio é sócio sênior e Chairman do Conselho Global de Clientes da McKinsey.

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