Era uma vez um pequeno país chamado Estônia, que apostou todas as fichas numa sociedade digital, em que cada cidadão interage com o Governo e com os outros sem fricção, sem burocracia, 100% online – ou melhor, 99%, que é o índice de serviços públicos ofertados de forma virtual.

Os estonianos podem, por exemplo, abrir uma empresa pela internet — sem jamais pisar num cartório — ou obter a certidão de nascimento dos filhos online. Casar e separar são as únicas coisas que não podem ser feitas remotamente. 

O resultado: apesar de ser menor que Minas Gerais, a Estônia já deu ao mundo sete unicórnios — uma prova de que a identidade digital gera aumento de produtividade e eficiência na economia.

“Com uma população pequena, políticas públicas adequadas e os recursos necessários para tanto, a Estônia criou uma infraestrutura de identidade digital que é exemplo para o mundo”, diz Yasodara Cordova, a principal privacy researcher da unico. “Mas vários outros países têm desenvolvido iniciativas interessantes de sociedade digital. Uma tendência dos sistemas modernos de digital ID é incorporar conceitos de direitos humanos, como o direito à privacidade e a universalização de acesso, colocando o usuário-cidadão no centro dessas infraestruturas”, complementa.

A Europa, por exemplo, após anos de estudo e consultas a empresas e à população, está desenvolvendo as primeiras provas de SSI, ou Self Sovereign ID, que pretende conectar cidadãos, garantir a privacidade das pessoas e diminuir barreiras para novos negócios, abrindo oportunidades para todo o bloco crescer. 

Na Argentina, está em desenvolvimento o Sistema de Identificação Digital, uma iniciativa governamental em coordenação com o setor privado. O objetivo é  ampliar o acesso das pessoas a  serviços públicos e privados via autenticação biométrica: mais segura e confiável do que os métodos tradicionais, como as senhas. 

Já a Índia lançou em 2009 o Aadhaar, um sistema de identificação digital que já tem 90% da população cadastrada. 

No Brasil, esse movimento tem acontecido de forma um pouco diferente, mas os avanços também são palpáveis. O país ficou em sétima posição, entre 198 economias, no GovTech Maturity Index 2020, índice do Banco Mundial que mede a maturidade do governo digital. E, por aqui, o setor privado também tem fomentado um ecossistema para o desenvolvimento de ID digital.

Uma das empresas à frente dessa revolução é a unico. A startup, fundada em 2007, criou uma solução de biometria facial que torna as transações entre pessoas e serviços privados mais ágeis, seguras e sem burocracia. A tecnologia já é usada por bancos, fintechs, varejistas e empresas de telecom para autenticar a identidade dos clientes e evitar fraudes.

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A identidade digital não é apenas uma forma de diminuir a burocracia — ela também ajuda a fomentar o crescimento dos países. 

Um estudo da McKinsey mostra que países como Brasil, China e Índia podem gerar um aumento de 3% a 13% do PIB até 2030 se conseguirem implementar de fato políticas de identidade digital que cheguem a toda a população. 

Isso aconteceria porque a identidade digital permite “uma melhor formalização dos fluxos econômicos, promove uma maior inclusão da população em vários serviços e permite a digitalização incremental de interações sensíveis que necessitam de um alto nível de confiança.” 

A adoção em escala da identidade digital gera valor de cinco formas principais, tanto para o Estado quanto para as empresas: queda dos custos de transação, redução das fraudes, aumento das vendas de produtos e serviços, aumento da produtividade do trabalho e crescimento da arrecadação.

Mas a McKinsey nota que há uma diferença entre a identidade digital “básica” — que permite a verificação e autenticação da pessoa — e o que ela chama de “identidade digital avançada.”

“A identidade avançada permite armazenar ou conectar informações adicionais sobre o dono da identidade, o que pode facilitar o compartilhamento avançado de dados”. Tudo isso pode ser feito com consentimento informado do usuário, proteção de privacidade e controle de dados pessoais.

O estudo da McKinsey aponta ainda que as interações com o consumidor representam 40% do potencial econômico da adoção de uma identidade digital no país, e quase três quartos desses benefícios podem vir da inclusão financeira. Vale lembrar que a população adulta bancarizada vem crescendo – passou de 70% para 79% entre 2017 e 2020, impulsionada, entre outros fatores, pela expansão das contas e carteiras digitais. Uma revolução, portanto, que já começou.

A cada dia evoluem as tecnologias e a infraestrutura para que as soluções de identidade digital possam se tornar regra nas interações com governos, empresas e indivíduos. No Brasil, a iniciativa privada pode despontar em inovações que transformam a experiência dos consumidores, simplificam a burocracia e combatem fraudes.

Interações online mais simples e confiáveis para empresas e pessoas. Sem dúvidas, tema prioritário para a agenda dos empresários: uma vida digital segura, que destrava potencial econômico, previne perdas e cria um ecossistema de desenvolvimento que beneficia a todos.

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