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“Convide a próxima geração à mesa para falar sobre o futuro do seu negócio familiar.”
A dica é de John Davis, professor do MIT Sloan School of Management e um dos pesquisadores mais importantes do mundo quando o assunto é governança de empresas familiares.
Em entrevista concedida a Márcio Renato Ribeiro, superintendente executivo de Wealth Planning do Bradesco Global Private Bank, o especialista aborda questões fundamentais para a longevidade dos negócios familiares, desde a pressão para que os herdeiros assumam cargos de liderança nas empresas até o embate entre legado e inovação.
“Se os membros da família estão resistentes ou hesitantes em falar sobre sucessão, inicie uma conversa sobre o futuro do seu setor, do seu negócio e sobre o que você deseja para sua família e para o negócio nos próximos 10 anos,” disse o especialista, que esteve no primeiro New Gen Internacional, realizado em Miami, evento criado pelo Bradesco Global Private Bank para as próximas gerações de seus clientes.
Quais são os maiores desafios que as empresas familiares enfrentam quando se trata de sucessão, e como eles podem ser superados?
No ambiente turbulento e acelerado de hoje, a incapacidade de se adaptar é um desafio significativo na sucessão. A adaptação é crítica em dois aspectos:
- As famílias precisam entender como o negócio deve mudar para se manter relevante como empresa e para envolver a próxima geração a assumir a liderança;
- Relacionado a isso, as famílias devem compreender como o empreendimento familiar mais amplo (todos os ativos e atividades da família) precisa se adaptar aos interesses e habilidades em transformação da próxima geração.
Um segundo desafio de sucessão que observo atualmente é a negligência em formar uma equipe na próxima geração. É necessário um time de liderança compartilhada entre irmãos, primos e ramos familiares para liderar o conjunto de negócios, ativos e atividades que são importantes para o sucesso de uma família.
As famílias focam no desenvolvimento de um líder sucessor ou membro do conselho e não alocam recursos para apoiar o desenvolvimento da próxima geração como uma equipe que possa trabalhar em conjunto de forma eficaz, seja no conselho de administração, na mesa de proprietários, no conselho de família ou em outros fóruns da empresa.
Como as famílias empresárias podem gerenciar membros que são tomadores de decisão, mas são resistentes a discutir o tema da sucessão?
Se os membros da família estão resistentes ou hesitantes em falar sobre sucessão, inicie uma conversa sobre o futuro do seu setor, do seu negócio e sobre o que você deseja para sua família e para o negócio nos próximos 10 anos.
Em seguida, pergunte à geração sênior: “O que vocês esperam de nós, da próxima geração, nos próximos 10 anos?”. A sucessão é frequentemente vista como uma conversa sobre substituição, e a geração sênior é aquela sendo substituída. Mude a conversa para o que as duas gerações, juntas, querem realizar, e pergunte à geração sênior como as duas gerações podem trabalhar em parceria para alcançar os objetivos da família.
Como as famílias empresárias podem equilibrar legado e inovação para se manterem competitivas no mercado atual? E como podem adaptar seus valores ao contexto atual sem perder a sua essência?
Não há nada de incompatível entre legado e inovação. Empresas familiares são conhecidas por serem grandes inovadoras. Parte do legado que uma família deseja construir está em ser adaptável, que não apenas acompanha os tempos, mas também é capaz de lançar novas formas de fazer as coisas. Inovação e adaptação são partes do legado que qualquer família que queira ter sucesso a longo prazo precisa desenvolver.
Às vezes, confundimos erroneamente legado com permanecer no mesmo lugar ou com lealdade às antigas maneiras de fazer as coisas. Isso é um uso equivocado do termo. Legado é tudo o que você deixa para que outros se beneficiem; não são apenas os ativos físicos e financeiros que você deixa para seus descendentes. É o interesse e a capacidade de criar novas coisas de valor.
Se você deseja permanecer inovador e adaptável como família, deve se comprometer a gerar valor de acordo com seus valores. Este é um mandato amplo que permite a cada geração descobrir como irão criar valor, mantendo-se fiéis às crenças e princípios importantes da família.
Como os herdeiros podem ser encorajados a ver o legado familiar como uma oportunidade em vez de um fardo?
Convide a próxima geração à mesa para falar sobre o futuro do seu negócio familiar. Fale sobre sua missão (propósito) como família: o que vocês estão tentando alcançar juntos e o valor que querem criar em conjunto.
Pergunte o que anima e interessa a próxima geração e que tipo de valor eles querem criar em sua geração. Ajuste a missão familiar e o empreendimento familiar para incluir as visões da próxima geração. Isso os ajudará a ver o legado familiar como uma oportunidade, pois ele os inclui e reflete suas opiniões.
Além disso, incentive a próxima geração a assumir responsabilidades e a liderar, mesmo que de maneira pequena. Quanto mais ativos eles forem, mais crescerá o comprometimento deles.
À medida que as pessoas se tornam mais comprometidas, elas ficam mais interessadas em trabalhar para alcançar resultados positivos.
Você poderia falar sobre o impacto da governança familiar nas relações entre os membros da família? E como as empresas familiares podem gerenciar conflitos entre os membros sem prejudicar o negócio?
A família precisa de planejamento estratégico para ela mesma. Isso é feito por meio de um grupo de governança chamado Conselho de Família, que antecipa para onde a família precisa ir para continuar sendo bem-sucedida como família e apoiadora de seu empreendimento. Este grupo estratégico lidera iniciativas para construir unidade familiar, talentos familiares, engajamento familiar e capacidade de tomada de decisões — além de organizar e direcionar como os membros da família podem contribuir de forma produtiva para o sucesso do empreendimento.
Parte do trabalho do Conselho de Família é criar um espaço onde os conflitos possam ser abordados e os interesses da família possam ser manifestados fora do ambiente empresarial. Quando há desavenças familiares, a família tem a responsabilidade de ser profissional e disciplinada em suas interações entre si e com a empresa. Eles devem proteger a empresa de seus conflitos. Isso pode ser feito ao levar os conflitos para o Conselho de Família, que pode ajudar a resolvê-los.
O Conselho de Família também pode recomendar uma política que exija que os conflitos familiares sejam tratados fora do ambiente empresarial.
O Bradesco Global Private Bank possui uma iniciativa voltada exclusivamente para preparar as novas gerações de seus clientes para os desafios do mundo contemporâneo. Com eventos no Brasil e exterior, o banco convida os jovens para criar conexões valiosas, ouvir histórias inspiradoras e dividir os desafios e oportunidades de se passar por um processo sucessório em uma empresa familiar.