A indústria de alimentos está cada vez mais atenta à mudança climática causada pela emissão de gases do efeito estufa. Mais e mais empresas vêm reconhecendo que a preservação do planeta e a perenidade de seus negócios dependem de um sistema produtivo mais sustentável.

E um dos pontos centrais nessa missão é a busca por soluções para logística e transporte. Isso porque a ciência já demonstrou que a queima de combustíveis fósseis — petróleo, gás e carvão — para a locomoção de cargas e pessoas é uma das principais causas do aquecimento global.

“Em 2019, considerando todos os modais, o setor de transportes movido a combustíveis fósseis respondeu por um quarto das emissões globais de gás carbônico produzidas pela ação humana. Nos Estados Unidos, essa participação chegou a 29% no mesmo ano. Portanto, mudar a matriz energética dos transportes é essencial para os países reduzirem as emissões de CO² e, assim, combaterem o aquecimento do planeta.”, explica Iêda de Oliveira, diretora e coordenadora do Grupo de Veículos Pesados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico.

Justamente nesse cenário é que os veículos elétricos vêm ganhando espaço como alternativa para a logística da indústria de alimentos. “Os veículos 100% elétricos emitem zero gás carbônico e praticamente zero material particulado e óxidos de nitrogênio, deixando de contribuir para o aquecimento global e para a poluição do ar nas cidades”, diz Ieda.

Um estudo da McKinsey mostra que os gastos com manutenção dos caminhões elétricos equivalem a 60% das despesas com os movidos a diesel. O desembolso com abastecimento do combustível fóssil custa o dobro na comparação com a alternativa elétrica. Portanto, a opção pela eletricidade se justifica também por critérios econômicos.

Em busca de modais alternativos, a Seara iniciou em maio o uso de caminhão 100% elétrico, o primeiro a rodar na indústria de alimentos refrigerados no Brasil. A cada veículo urbano de carga a diesel retirado de circulação, cinco toneladas de gases de efeito estufa deixam de ser emitidas por mês. Além disso, o custo operacional é três vezes menor. Outra vantagem: como não fazem barulho, os elétricos viabilizam a entrega de produtos à noite e de madrugada, contribuindo para a redução de trânsito.

A empresa adquiriu 30 caminhões elétricos neste ano e a meta é atingir 40% da frota em cinco anos. A JBS, dona da Seara, também adquiriu da Volkswagen um modelo de maior capacidade de carga, o e-Delivery, 100% elétrico e desenvolvido no Brasil.

Para o vice-presidente de vendas, marketing e serviços da Volkswagen, Ricardo Alouche, a eletrificação de frotas, através de energias cada vez mais renováveis e limpas, além de contribuir significativamente para a descarbonização ambiental, também tem maior viabilidade operacional.

“Os veículos urbanos percorrem um padrão de rotas e distâncias já estabelecidas, retornando para o carregamento em suas garagens, facilitando assim o planejamento das recargas e o controle da autonomia do veículo. As frotas elétricas também possuem um menor TCO (Total Cost of Ownership), com uma otimização da sua carga útil, além de proporcionar maior economia de combustível e menos desgaste de componentes”, diz Ricardo.

Veículos que não emitem gases causadores do efeito estufa rimam com empresas que assumiram compromissos Net Zero. No caso da JBS, a segunda maior empresa de alimentos do mundo foi a primeira grande empresa global no segmento de proteína a assumir a meta de zerar o balanço líquido de suas emissões de gases de efeito estufa até 2040.

Dessa forma, a empresa engrossa uma tendência global no transporte. A McKinsey estima que a utilização de caminhões elétricos vai ultrapassar 30% em 2030. Análise em três mercados-chave – China, Europa e Estados Unidos – indicou que a demanda chegará a 2,7 milhões de unidades em 2025 e 11 milhões no fim da década.

A mudança vem também dos governos. A União Europeia, por exemplo, exige que novos caminhões reduzam as emissões de CO2 em 30% até 2030. A regra Advanced Clean Truck, da Califórnia, exige que os fabricantes de veículos comerciais comecem a vender os chamados eTrucks em 2024 e restrinjam todas as vendas a essa categoria até 2045.

Essa regulamentação também se dá em âmbito municipal. Mais de 40 cidades em todo o mundo começaram a proibir motores de combustão interna a diesel e gasolina nos centros das cidades. Não há dúvida: o futuro nas ruas e estradas será elétrico.

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