O mercado de créditos de carbono tem passado por uma onda de M&As — com diversas empresas que atuam nesse nicho sendo adquiridas por players estratégicos ou recebendo investimentos vultosos.
Recentemente, a Shell comprou uma participação na Carbonext; o Santander se tornou dono da Waycarbon; e o Itaú, Rabobank, Santander, Suzano e Vale se uniram para criar a Biomas. Já o BTG virou sócio da Systemica e da Bluebell.
A Future Carbon, no entanto, decidiu ir na contramão dessa tendência.
A startup — fundada em 2021 por Fábio Galindo, o ex-chairman da Aegea — não só não está buscando novos investidores, como Galindo acaba de recomprar o único investidor institucional que estava no cap table da empresa.
O fundador, que tinha 46% do capital, comprou a participação de um investidor estrangeiro que tinha outros 46%. Com isso, aumentou sua participação para 84%, enquanto sete executivos da empresa ficaram com 14%.
Luciano Huck, que já tinha 1% do capital, dobrou sua participação.
O valuation da transação não foi revelado, mas o valor presente líquido (VPL) do estoque de créditos de carbono da startup — 138 milhões de créditos a serem entregues em 30 anos — é avaliado em cerca de US$ 120 milhões. (Esta conta usa como premissa um preço futuro de US$ 3,20 para o crédito de carbono e uma taxa de desconto de 12%).
“Fomos muito procurados por investidores que querem entrar nessa agenda, mas entendemos que era muito melhor fazer o buy-in, apostar na execução para consolidar a plataforma e fazer uma rodada mais pra frente já com um track record forte,” Galindo disse ao Brazil Journal.
Com a mudança societária, a Future Carbon também está mudando de estratégia.
Agora rebatizada de Future Climate, a startup está deixando de operar como uma desenvolvedora e comercializadora de projetos de crédito de carbono para atuar como um player financeiro neste mercado.
“Neste novo modelo, o retorno do investimento é três vezes maior, o risco é muito menor, e o negócio é muito mais escalável,” disse Galindo.
No modelo anterior, a Future Climate prestava consultoria para empresas que queriam desenvolver projetos de crédito de carbono, ajudando a desenvolver o projeto, gerar os créditos e depois fazendo a venda para empresas que quisessem compensar suas emissões. Ela era remunerada com fees de prestação de serviço e comissões em cima da venda.
Agora, a Future Climate está levantando um fundo para comprar os créditos de carbono com deságio — antecipando os recursos para as desenvolvedoras dos projetos — e depois revendê-los, ganhando o spread.
A ideia é começar com um fundo de R$ 30 milhões, só com capital próprio. Em 12 meses, depois que o fundo já tiver um track record, a Future Climate vai buscar recursos com terceiros.
“Tem muitos fundos e bancos que estão olhando essa agenda e têm grande capacidade de atrair capital – mas não a capacidade de deploy, a leitura de mercado e a inteligência do portfólio de carbono e dos preços futuros,” disse o CEO. “Podemos fazer uma parceria ganha-ganha com esses fundos em que eles captam os recursos e a gente se torna o player de deploy.”
Galindo disse que o fundo já tem nove projetos em prospecção no Brasil para serem adquiridos, além de dois no Paraguai e um na Colômbia. Um desses projetos é a restauração de áreas florestais no Mato Grosso do Sul, com vegetação nativa.
Além do fundo de restauração — que a Future Climate está chamando de 2.0 Carbon Fund — a startup está lançando um segundo fundo que vai investir em startups early stage que criaram tecnologias de descarbonização. Este fundo também está iniciando com R$ 30 milhões de capital próprio.
A Future Climate faturou R$ 9,6 milhões no ano passado. De janeiro a julho deste ano, o top line já foi de R$ 34 milhões e a projeção é fechar o ano com um faturamento de R$ 54 milhões. Galindo disse que a empresa atingiu o breakeven em maio.