Nos últimos dois anos, a ação da Brookfield Corporation despencou mais de 35%, com o mercado precificando que o conglomerado canadense deve sofrer um baque relevante com a alta dos juros nos EUA.
O consenso é de que a empresa — cujo principal negócio é uma gestora global com mais de US$ 800 bilhões em ativos — foi pega no contrapé com a alta dos juros, com várias de suas investidas muito alavancadas, o que pode gerar retornos ruins para os fundos e causar um dano à franquia.
A Arbor Capital, no entanto, acha que o mercado bateu demais na ação.
A gestora brasileira focada em ações internacionais acaba de alocar 4% de seu fundo na Brookfield, apostando que a companhia conseguirá atravessar esse momento de maior turbulência – e que o preço da ação aguenta desaforo.
“Não descartamos o cenário ruim do consenso, mas não é o nosso cenário-base. Uma parte importante da dívida deles é pré-fixada, e eles têm um histórico muito bom de alocação de capital para sofrer tanto com algo relativamente simples,” Leonardo Otero, o gestor da Arbor, disse ao Brazil Journal.
Para a Arbor, a ação está barata demais para ignorar.
A Brookfield tem três negócios: a Brookfield Asset Management (BAM), focada em real estate, infraestrutura, renováveis e crédito, e com mais de US$ 800 bilhões em ativos de clientes; investimentos proprietários, principalmente em ativos imobiliários e infraestrutura; e uma seguradora, que é o negócio mais recente do grupo.
Nas contas da Arbor, só a participação de 75% da Brookfield na gestora deveria valer US$ 34 bilhões, em linha com o market cap atual de US$ 39 bilhões. A BAM é listada separadamente da Brookfield Corp., que vale US$ 54 bilhões na Bolsa de Nova York.
A Arbor tomou como premissa um lucro de US$ 2,2 bilhões para a BAM este ano, e aplicou um múltiplo de 21x lucro com base em peers do setor e na dinâmica do negócio, que tem receitas previsíveis e estáveis.
“Optamos por não precificar a taxa de performance para sermos ainda mais conservadores,” disse Otero.
Já os investimentos proprietários da Brookfield — um portfólio de imóveis ‘triple A’ e diversos ativos de infraestrutura que a companhia construiu ao longo de décadas — estão marcados em seu balanço em US$ 58 bilhões, com a maior parte concentrado em real estate (US$ 24 bi) e investimentos diretos nos fundos da casa (US$ 14 bi).
Por fim, a Arbor estima que a seguradora deveria valer US$ 8 bilhões, considerando um lucro de US$ 550 milhões este ano e um P/L de 15x. (O lucro da seguradora deve ser maior, mas muitos dos M&As que ela fez para crescer ainda estão em fase de aprovações regulatórias).
Com a soma das partes, a Arbor chega a um valor justo de US$ 100 bilhões para a empresa, quase o dobro do market cap atual.
“Olhamos muito mais a projeção para 2028 do que o número de agora,” disse Otero. “Em 2028, achamos que a empresa pode valer mais de US$ 220 bi, principalmente pelo crescimento da asset.”
A estimativa da Arbor é que o lucro distribuível da gestora vai crescer a um CAGR de 16% nos próximos cinco anos, chegando a US$ 5 bilhões em 2028. Desse crescimento, Otero diz que cerca de 20% já estão contratados porque virão de fundos já levantados, mas em que a gestora ainda não chamou o capital.
“Tem uma tendência muito grande dos principais alocadores de capital, como fundos de pensão e endowments, de saírem de bonds e public equities e irem mais para alternativos, porque os retornos são maiores e não tem a marcação diária de preço,” disse Otero.
No ramo de seguros, o crescimento da Brookfield também deve ser relevante. O principal produto da empresa são os chamados annuities, uma espécie de COE que dá um retorno mínimo garantido ao investidor e oferece um upside adicional caso o S&P suba em determinado período.
“É um negócio que casa muito bem com a asset porque consiste basicamente em vender esse produto estruturado para o cliente, pegar o dinheiro dele e investir com uma rentabilidade maior, ganhando no spread. Então, a expertise da asset é muito importante,” disse Otero.
A Brookfield tem dito ao mercado que espera chegar a US$ 100 bilhões em ativos com esse produto até 2026. Como projeta um custo de capital de 4% e uma rentabilidade de 6% com o dinheiro aplicado, o spread de cerca de 2% daria um lucro de US$ 2 bilhões já em 2026.
Outra forma de olhar o valor descontado da ação, segundo Otero, é pela geração de caixa projetada.
A Arbor estima que a Brookfield vai gerar US$ 41 bilhões de caixa nos próximos cinco anos. “Se ela pegar esses US$ 41 bi e distribuir como dividendos, seria como se a empresa estivesse valendo apenas US$ 9 bi daqui cinco anos, quando ela deve ter um lucro estabilizado de US$ 10 bi.”
Otero disse que a Arbor sempre tenta ter uma visão oportunística e buscar oportunidades onde o mercado está “panicando.”
“Agora está muito claro que onde o mercado está panicando é nas teses relacionadas a juros,” disse ele. “Então vale a pena olhar empresas que estão indo nesse embalo sem justificativa.”