A oferta da Equifax para fechar o capital da Boa Vista Serviços está enfrentando resistência de parte da base acionária.
Um grupo de investidores, donos de 35% do capital da Boa Vista, enviou uma carta ao chairman da companhia no início da semana rechaçando a oferta e argumentando que o preço e a relação de troca “não capturam de forma adequada” o valor da companhia.
O grupo é liderado pela TMG, que tem cerca de 21% do capital, e composto pelas gestoras Absolute, Brizo Capital, Frontier Capital, Madison Avenue International e Kayne Anderson Rudnick. Essas gestoras têm participações que variam de 2% a 7% do capital.
As gestoras também já abriram negociações com outros três potenciais compradores para o ativo, uma fonte próxima do grupo disse ao Brazil Journal.
Há cerca de seis meses, a TMG já havia colocado a sua participação à venda e tinha encontrado dois interessados no ativo. “Agora, apareceu mais um,” disse a fonte. “Eles ainda não receberam nenhuma oferta firme, mas as conversas estão em estágios bem avançados.”
Entre os interessados, há players financeiros buscando comprar uma parcela do negócio, e players estratégicos de olho no ativo inteiro. No mercado, analistas acreditam que compradores potenciais seriam a americana Transunion, uma das maiores do setor no mundo, e a B3, que recentemente comprou a Neurotech e a Neoway, que teriam sinergias com a Boa Vista.
A rejeição dos fundos à oferta da Equifax tem a ver com preço, mas também com a forma como a proposta foi conduzida – e o fato dela dar termos diferenciados para a Associação Comercial de São Paulo, que tem 30% do capital.
No quesito preço, as gestoras consideram o múltiplo proposto — de 8,9x o EBITDA dos últimos doze meses, excluindo os gastos com dados junto a cartórios e juntas comerciais — extremamente baixo.
“A Equifax ofereceu 8,9x EBITDA sendo que ela mesma está negociando a 19,3x na Bolsa americana,” disse a fonte. “Além disso, a Boa Vista cresce muito mais do que a Equifax. Ela teria que ter um prêmio em relação a ela, e não um desconto.”
Outra fonte lembrou que a Boa Vista tem R$ 1 bilhão de caixa líquido, o que faz a oferta da Equifax ser “ainda mais vergonhosa.”
As gestoras também notam que no IPO, há apenas dois anos, a Boa Vista saiu a R$ 12,20 — 32% acima da oferta da Equifax. De lá para cá, a Boa Vista cresceu em todos os principais indicadores e multiplicou seu lucro por mais de 5x.
“O mercado brasileiro está na lona agora, com múltiplos muito descontados. Aceitar essa oferta seria vender no pior momento possível por um preço que não é justo.”
As gestoras defendem que a Boa Vista tem um valor estratégico que não está precificado na oferta. Por ser o maior bureau de crédito da América Latina, ela pode ser uma porta para qualquer player internacional que queira entrar na região.
Sobre a governança da transação, as gestoras dizem que a oferta beneficia muito mais a ACSP em detrimento dos demais acionistas.
A proposta da Equifax inclui um acordo de prestação de serviços pelo qual a Equifax vai pagar R$ 14,5 milhões por ano para ter acesso aos dados da ACSP de forma exclusiva por um período de 15 anos.
“Essa é uma condição que os demais acionistas não podem ter e que, naturalmente, torna a oferta muito mais atrativa para a Associação Comercial,” disse a fonte.
“A ASCP também vai poder continuar sócia da empresa de capital fechado, capturando o crescimento do negócio nos próximos anos. Muitas das gestoras que são acionistas não têm essa opção, porque o mandato do fundo não permite.”
Segundo a fonte, apesar da carta ser assinada por acionistas representando 35% do capital, em conversas informais outros acionistas também demonstraram descontentamento com a oferta. No total, as gestoras calculam que já têm mais de 40% do capital contrário à OPA.
As gestoras também pretendem questionar o direito da Equifax e da Associação Comercial de votarem na assembleia, já que enxergam um conflito de interesses.
“Esses dois acionistas têm um benefício claro em aprovar a transação que os outros acionistas não têm. Vai ter esse questionamento do conflito.”
Outro ponto que chamou a atenção: apesar dos acionistas terem enviado a carta ao presidente do conselho na segunda-feira, até agora a Boa Vista não publicou um fato relevante sobre o assunto.
O papel fechou o dia a R$ 7,50, com a companhia valendo R$ 4 bilhões.