Enquanto o mundo está fixado no derretimento do preço dos ativos, Warren Buffett está atento a oportunidades no outro lado do balanço.
A Berkshire Hathaway levantou € 1 bilhão emitindo um bond no mercado internacional. O cupom a ser pago semestralmente? Zero.
O bond foi precificado quarta-feira passada a 99,795 do valor de face, o que se traduziu num custo efetivo de 0,04% ao ano para a companhia.
O tamanho da emissão é pequeno perto dos US$ 120 bilhões que a companhia tem em caixa, mas Buffett e Charlie Munger poderão mostrar aos acionistas que estão aproveitando um mundo em que os bancos centrais — e investidores — estão distribuindo dinheiro.
Em dezembro, a JAB — o veículo de investimento europeu frequentemente comparado à Berkshire — havia emitido € 750 milhões num bond de 20 anos. O yield foi de 2%.
A curva dos Bunds alemães — a taxa de referência para emissões na Europa — está precificando juros negativos em todos os seus vencimentos até 30 anos. Em outras palavras: quem investe num título alemão hoje receberá menos de volta em qualquer momento do tempo.
Essa molezinha, no entanto, só vale para quem tem CEP de país desenvolvido e rating quase soberano, como a própria Berkshire. Empresas brasileiras que são emissores tradicionais no mercado internacional — como Vale e Petrobras — pagam mais caro por que têm um risco de crédito associado à bagunça brasileira.
Apesar dos Treasuries americanos terem fechado substancialmente nos últimos dias, o risco de crédito atribuído ao setor corporativo explodiu, anulando toda a vantagem. “Em muitos casos ficou mais caro emitir agora,” diz o CFO de uma grande empresa brasileira.
A Rede D’Or, que em meados de janeiro emitiu US$ 850 milhões por 10 anos, já viu seu yield subir de 4,5% no pricing para 5% agora.
Além disso, cerca de 20% da dívida high-yield no mercado americano foi emitida por empresas de fracking, as mais prejudicadas pela guerra de preços detonada pela Arábia Saudita e Rússia. Isso fez com o que os benchmarks para os emissores high yield ficassem mais caros.
Ainda assim, quando a volatilidade voltar a níveis civilizados, a janela do ‘free money’ pode ser uma oportunidade para players que nunca participaram do mercado internacional.
“Grandes family offices brasileiros com uma base de ativos substancial lá fora poderiam acessar esse dinheiro barato e criar um histórico de crédito internacional,” diz o tesoureiro de um grande fundo. “Daqui a 15 anos, no limite, essa família poderia repatriar os recursos e ficar com uma base de ativos financiada a perto de zero.”