A Bemobi, que integra soluções de conteúdo e pagamento com operadoras de telecom, está entrando no setor de energia – um mercado com um volume transacionado três vezes maior.
A empresa fechou dois acordos comerciais para processar parte dos pagamentos dos clientes da Energisa e Equatorial.
O movimento faz parte de uma estratégia de diversificação de receita que começou depois do IPO da Bemobi há um ano e meio.
Antes da oferta, a empresa tinha mais de 80% de sua receita vindo de sua plataforma de distribuição de games mobile e aplicativos — um modelo que funciona como uma espécie de ‘Netflix dos apps’. (A Bemobi recebe das operadoras num modelo de revenue share).
Depois do IPO, o CEO Pedro Ripper fez dois M&As — comprando a M4U e a Tiaxa — posicionando a Bemobi nos segmentos de pagamentos e microfinanças.
Hoje, essas duas verticais já respondem por 40% da receita da empresa. Outros 25% vêm da vertical de SaaS, em que ela vende softwares de gestão para as operadoras de telecom; e 35% das assinaturas da plataforma de apps.
Os acordos com a Energisa e Equatorial envolvem a tecnologia da M4U, que oferece soluções de pagamento end to end para empresas de telecom.
Esse pacote inclui desde o sistema anti-fraude até o gateway de pagamento, passando pelo processamento da transação.
“Há uns seis meses começamos a olhar as indústrias que tinham desafios parecidos [aos de telecom], e vimos que as distribuidoras enfrentam problemas bem semelhantes,” Ripper disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, as distribuidoras enfrentam três grandes desafios: inadimplência; custo alto de arrecadação (já que boa parte das faturas ainda é paga nas lotéricas); e mudanças regulatórias, com a provável liberação do mercado livre de energia para o consumidor final.
A solução da Bemobi ajuda a endereçar os três.
“Levando [o pagamento] para o digital, você já reduz muito o custo de arrecadação,” disse ele. Além disso, “a gente consegue oferecer a opção de pagar parcelado a fatura e em vários canais, como Whatsapp, website e app, o que tende a reduzir a inadimplência e a fidelizar o cliente, o que será muito importante quando o mercado abrir.”
A Bemobi está em negociações com “todas” as grandes distribuidoras para fechar contratos nesses mesmos moldes, disse o CEO.
A aposta é se consolidar num mercado que, segundo Ripper, é 3x maior que o telecom em termos de volume transacionado (TPV) anual.
A Bemobi não estima quanto a nova vertical pode adicionar em receita de imediato, mas Ripper disse que espera que, em três anos, seu TPV no setor de energia já seja igual ao que a empresa faz hoje em telecom (cerca de R$ 6 bilhões por ano).
A Energisa vai implementar a solução da Bemobi em 100% de sua base de mais de 20 milhões de clientes. A Equatorial vai começar com 25% da base no Sul e em algumas regiões do Norte.
Nessa vertical, a Bemobi não ganha nenhum valor fixo, e sua remuneração é em cima de um take rate do valor transacionado. “Compramos um pouco o risco, mas se geramos um ganho real para o cliente, participamos desse ganho.”
O movimento vem num momento em que a ação da Bemobi negocia cerca de 40% abaixo do IPO — uma queda que até parece tímida se comparada com outras empresas de tecnologia.
Mas em termos de múltiplos a compressão foi muito maior, dado que a empresa dobrou de tamanho nos últimos doze meses, disse o CEO.
Um ano atrás, a Bemobi negociava a cerca de 12x EBITDA. Hoje, o múltiplo está em 3,5x.
Dada essa realidade, Ripper disse que a empresa enfrenta um dilema: recomprar sua própria ação ou fazer mais M&As, como prometido no IPO?
“Estamos com um programa de recompra aberto e quando terminar vamos abrir outro! Enquanto o valor tiver nesse patamar, vamos continuar fazendo isso,” disse ele. “Mas também não dá para deixar bons deals passarem. Temos que calibrar para conseguir fazer as duas coisas.”