A Barte — uma startup brasileira de meios de pagamento — acaba de ser avaliada em R$ 400 milhões (post-money) numa rodada liderada pela AlleyCorp, a gestora com sede em Nova York fundada por Kevin Ryan.

Ryan é o co-fundador da MongoDB – uma plataforma de soluções para programadores que hoje vale US$ 21 bilhões na Nasdaq – e foi um dos criadores do site Business Insider, uma referência no mundo dos negócios. 

Caetano Lacerda okEste é o primeiro investimento da AlleyCorp no Brasil. Na América Latina, a gestora já havia investido na colombiana ADDI, de ‘buy now pay later’. 

O valor da captação não foi revelado, mas a Barte disse que agora já levantou mais de R$ 100 milhões desde sua fundação em 2021.

Como nas duas rodadas anteriores ela havia captado cerca de R$ 22 milhões, o montante levantado hoje foi de pelo menos R$ 78 milhões.

O cofundador Caetano Lacerda disse ao Brazil Journal que a startup já gera caixa e está numa posição “confortável” do ponto de vista financeiro. Segundo ele, a rodada trouxe uma diluição baixa. 

“Vimos a oportunidade de trazer um parceiro complementar, que já tem muita experiência em empreendedorismo, e de levantar recursos para a acelerar o crescimento da operação,” disse Caetano. 

A Barte surgiu para resolver duas dores das médias e grandes empresas: a dificuldade de movimentar dinheiro para dentro e fora da companhia, já que há muita fricção neste processo; e a falta de acesso a crédito. 

A startup desenvolveu uma infraestrutura que torna mais eficiente os processos de pagamento e recebimento — automatizando etapas — e dá mais flexibilidade de escolha para as empresas. Essa infraestrutura (o software da Barte) funciona como uma camada adicional em cima das soluções das adquirentes. 

A startup também criou uma operação de antecipação de recebíveis para seus clientes que já concedeu mais de R$ 800 milhões em crédito. 

Um exemplo de uso da plataforma é a Housi, um dos mais de mil clientes da Barte. 

“Quando a Housi se integra com a nossa infraestrutura passamos a processar todos os seus pagamentos, tanto os do mundo físico quanto online: o pix, o boleto, o cartão. Esse ‘feijão com arroz’, só de fazer bem feito já é muita coisa,” disse Raphael Dyxklay, o outro fundador. 

“Depois, a gente ajuda a empresa a vender mais, expandindo os métodos de pagamento que ela aceita com o parcelamento em 21x e modelos híbridos, como dividir o pagamento em mais de um método ou pagar em mais de um cartão.”

Por fim, a Barte consolida todas as transações num dashboard e dá visibilidade para o cliente sobre cada uma delas, bem como os custos envolvidos.

Raphael Dyxklay okA monetização vem de um spread em cima da operação. Depois de processar o pagamento, a Barte paga as bandeiras de cartão e paga quem estiver fazendo o funding — em alguns casos, ela mesma — e fica com a diferença.

Com a rodada, os fundadores querem acelerar o crescimento do negócio, investindo na expansão do time comercial e melhorias do produto. 

Em novembro, a startup deve chegar a um volume processado anualizado de R$ 1,5 bilhão e a um faturamento anualizado de cerca de R$ 100 milhões, 2x maior que a receita de dois meses atrás, quando os termos da rodada foram fechados. 

A meta para o ano que vem é aumentar o faturamento em 2x a 3x, capturando uma fatia cada vez maior de um mercado trilionário. 

A estimativa da Barte é que só o mercado de recebimento de pagamentos movimenta R$ 4 trilhões por ano no Brasil. “Se pegarmos a infraestrutura de pagamentos para fora das empresas, o mercado é ainda maior,” disse Caetano. “Dá para fazermos bilhões de reais em receita com um market share pequeno desse mercado.”

A ideia da Barte surgiu da cabeça de Caetano, um português que trabalhou no investment banking do Deutsche Bank em Londres, cuidando de M&As de instituições financeiras, e depois passou pela Tractable, um unicórnio de inteligência artificial no setor de seguros. 

Durante a pandemia, Caetano passou seis meses no Rio de Janeiro, onde tem família, e começou a pensar em empreender. 

Quando chegou na tese da Barte, mandou uma mensagem no LinkedIn de Raphael, por indicação de uma amiga em comum, convidando-o para ser seu sócio.

Formado em literatura, Raphael fez carreira em tecnologia e trabalhou em três unicórnios brasileiros: a Creditas, a Loft e a Olist. 

A primeira rodada veio ainda no PowerPoint e com Caetano morando na Europa. Além de dar gás para tirar a ideia do papel, o investimento foi decisivo para o negócio: permitiu que Caetano conseguisse seu visto permanente para morar no Brasil.