Depois de sofrer com o petróleo e o câmbio em alta, as companhias aéreas voltaram a encontrar a pista livre, e suas ações decolaram nos últimos dias. A questão é quanto tempo a recuperação vai durar.

Azul e GOL, que perderam quase metade de seu valor desde o pico em abril, estão passando por um momento de descompressão, beneficiadas por um petróleo em queda e novas encomendas de aviões, que transmitem a percepção (real ou não) de confiança no futuro.

Do fechamento de sexta-feira até hoje, a Azul subiu 8,4% (terminou o dia a R$ 23,68), enquanto a GOL disparou 15% no acumulado, negociando a R$ 13,28 ao fim do pregão.

Os papéis das companhias aéreas são altamente expostos a câmbio e combustível. O querosene de aviação representa mais de 30% dos custos totais da operação; a maior parte dos custos é dolarizada, mas a maior parte do faturamento é em Real.

Normalmente, quando o petróleo está em alta, as moedas da América Latina tendem a se apreciar. Mas o setor vinha passando por uma tempestade perfeita: alta do petróleo acompanhada de desvalorização cambial – sem falar na estagnação do mercado doméstico, no caso do Brasil.

A chamada ‘posição técnica’ dos papéis também favorecia esse respiro. Na GOL, já há algum tempo não havia mais aluguel disponível para investidores querendo apostar na queda da ação. E na Azul, além da saída dos chineses da HNA, os investidores locais também já haviam vendido quase tudo.

Tentando marcar o ponto de inflexão, a Goldman Sachs iniciou ontem sua cobertura da Azul com uma recomendação de compra (e ‘neutro’ para GOL e LATAM). Para o banco, o cenário macro segue incerto mas já estaria precificado na última onda de desvalorização.

Um investidor nota que, além disso, as empresas estão capitalizadas – longe do risco de uma crise de liquidez. E, diferentemente do cenário de 2015, quando foi preciso puxar o freio, a oferta já está ajustada à expectativa de demanda.

Nada anima o mercado tanto quando a encomenda de novos jatos, e tanto a Azul quanto a GOL aproveitaram a feira anual de Farnborough para anunciar a compra de novos aviões. No entanto, segundo fontes da indústria, o movimento está mais associado a uma substituição de frota para a manutenção da idade média dos aviões, com ganhos de eficiência, do que propriamente à criação de novas rotas e frequências.

A GOL está comprando 15 novos jatos 737-MAX 8, além de converter de 30 pedidos atuais do modelo MAX 8 para 737 MAX 10, que tem espaço para mais 30 assentos e mais alcance.

E a Azul encomendou 21 jatos 195-E2 – um alívio para a Embraer, que vinha sofrendo com a decisão da Jetblue de substituir jatos da fabricante brasileira pelos de sua principal concorrente.

Em apenas dois dias da feira, a Embraer já conseguiu mais de 250 encomendas, incluindo 25 jatos E175 para a United e até 200 para a americana Republic Airways, uma velha cliente de São José dos Campos que saiu da recuperação judicial há um ano.

(Enquanto a Azul se mantém fiel à Embraer, a nova startup de David Neeleman nos EUA, a Moxy, vai de Airbus: encomendou 60 A220-300 em Farnborough.)

A alta das companhias aéreas nos últimos dias não é garantia de nada. Os balanços vão sofrer se o dólar voltar a se fortalecer contra o Real. Além disso, as estimativas para o PIB continuam sendo reduzidas, o que coloca em xeque o crescimento da demanda (e o valor das companhias) no ano que vem.  No final, mais do que o dólar e o combustível, um vôo sustentável das aéreas vai depender da eleição.