Um autorretrato de Frida Kahlo foi vendido ontem à noite por US$ 34,9 milhões — um novo recorde de preço para um artista latinoamericano.
A pintura “Diego e Eu” trocou de mãos num leilão da Sotheby’s em Nova York.
O comprador foi Eduardo Costantini, o empresário argentino que fundou o Museu de Arte Latino Americano (Malba) de Buenos Aires e que comprou o Abaporu por US$ 1,35 milhão em 1995, levando para a Argentina a obra icônica de Tarsila do Amaral — para imenso desconforto do ego brasileiro.
Segundo o The New York Times, Eduardo adquiriu o quadro de Frida para sua coleção pessoal.
A venda de ontem sublinha a valorização meteórica que os quadros da artista mexicana vivenciaram nas últimas décadas — um movimento que alguns historiadores de arte atribuem à disponibilidade limitada de suas pinturas no mercado.
Para se ter uma ideia, a última vez que Diego e Eu foi vendido na Sotheby’s, em 1990, ele saiu por US$ 1,4 milhão.
Dez anos antes, outro quadro da artista havia trocado de mãos por (hoje) simplórios US$ 85 mil.
Concluída em 1949, cinco anos antes da morte de Frida, a pintura é um dos últimos autorretratos da artista e tida como um dos melhores exemplos da “intimidade perturbadora” de Frida, que atrai colecionadores e apreciadores de arte.
A obra é um comentário sobre o casamento turbulento de Frida com Diego Rivera, que aparece na pintura na testa da artista, logo acima de seus olhos cheios de lágrimas.
Por coincidência, o quadro de Frida ultrapassou o recorde que havia sido estabelecido por uma pintura de Rivera, “O Baile de Tehuantepec”, vendida em 2016 por US$ 15,7 milhões…. também para Costantini.
“Agora podemos dizer que o Diego Rivera é ‘o marido da Frida Kahlo’,” o curador de um museu da Califórnia disse ao NYT celebrando a mudança no padrão histórico, em que a mulher é sempre a parte esquecida de um casal de artistas.
Diego e Eu é “uma peça com qualidade de museu,” o chairman da Sotheby’s disse sobre a pintura. “A Frida agora está na ‘wish list’ de praticamente todos que colecionam obras primas da arte moderna.”
Gregorio Luke, o ex-diretor do Museu de Arte Latinoamericana da Califórnia, disse ao NYT que as leis mexicanas impedem boa parte das vendas de obras de artistas proeminentes dos séculos 19 e 20, como Frida.
“O preço é resultado de um interesse reprimido pela artista, que é muito grande, e de um inventário muito limitado,” disse ele. “Existem provavelmente menos de 30 pinturas dela no mercado.”