Após mais de dois anos ganhando mercado, o Carrefour está desacelerando no Brasil, e o Grupo Pão de Açúcar (GPA) começa a recuperar território.
O Carrefour divulgou esta manhã suas vendas em mesmas lojas no País, permitindo a comparação com o GPA, que havia divulgado seus números semana passada.
No quarto trimestre, o Carrefour cresceu 9% no Brasil, enquanto o GPA cresceu 7,7%, ambos no conceito ‘mesmas lojas’, que mede o desempenho das lojas abertas há pelo menos 12 meses.
Além de ser o menor ‘gap’ desde o segundo trimestre de 2014, a diferença no desempenho — de 1,3 ponto percentual – mostra uma forte desaceleração no Atacadão, o formato atacarejo do Carrefour, e um avanço do GPA no segmento de multivarejo, que reúne os hipermercados Extra e os supermercados Pão de Açúcar.
O Carrefour não divulga as vendas do atacarejo e dos hipermercados separadamente, mas analistas estimam que o Atacadão tenha crescido no quarto trimestre pouco acima de 10%, enquanto o Assaí, o atacarejo do GPA, cresceu 17,3%. (O Atacadão representa cerca de dois terços do negócio do Carrefour, enquanto o Assaí representa apenas 30% das vendas do GPA).
Nos hipermercados, o Carrefour ganhou 0,7% de participação de mercado durante o ano de 2016, mas o management do Carrefour disse na teleconferência esta manhã que a concorrência ficou mais difícil graças ao reposicionamento do GPA.
A questão agora é se os investidores irão se convencer de que esta inversão da trajetória veio para ficar e é reflexo do reposicionamento de formatos adotada pelo GPA, ou um movimento apenas pontual.
A estratégia do GPA — calcada na expansão do Assaí e em estratégias promocionais no Extra — tem sido alvo de ceticismo no mercado, que tem preferido esperar ver para crer.
O GPA começou a dar sinais de reação no terceiro trimestre, quando a diferença de desempenho em relação ao Carrefour caiu para 3,5 pontos percentuais contra 6 pontos nos três meses anteriores.
Além de ampliar a abertura de lojas do Assaí e converter hipermercados para atacarejo, o GPA decidiu reforçar a proposta de preço baixo do Extra com o lançamento de uma série de campanhas promocionais em maio do ano passado.
A principal delas, chamada ‘1, 2, 3 passos da economia’, oferece descontos progressivos aos clientes – 20% na compra da primeira unidade, 50% na segunda e a terceira de graça.
Os dados divulgados hoje ecoam um estudo qualitativo encomendado pelo UBS e divulgado há dois dias.
A pesquisa, que ouviu 500 consumidores das classes B, C, D/E durante o mês de outubro, concluiu que a percepção de preço do GPA pelos consumidores melhorou, e que o grupo aumentou sua participação de mercado.
A percepção de preço dos consumidores continua sendo menor no Carrefour, mas a diferença caiu de nove pontos na pesquisa anterior, em 2015, para três pontos no ano passado.
Anualmente, o UBS ouve consumidores sobre os principais fatores que levam à decisão de compra e elabora um índice ponderado de preferência do consumidor em relação a cada marca.
Na última avaliação, o Extra ultrapassou o Carrefour no ranking. A bandeira do grupo GPA ganhou 4 pontos percentuais em relação a 2015, para 63 pontos, enquanto o Carrefour ficou estável, em 62 pontos.
“Nossa pesquisa sugere que o Pão de Açúcar está conseguindo atacar os fatores que estavam comprometendo o crescimento”, afirma a equipe do banco.
Guilherme Assis, o analista que mais escreveu sobre o gap de performance dos dois arquirrivais, simulou três cenários de performance para o Atacadão e a operação de hipermercados do Carrefour. Nos três cenários, o GPA está ganhando share (veja tabela abaixo).
Assis, do Banco Brasil Plural, estima que a atividade promocional do Extra fará o GPA perder de 1 a 2 pontos percentuais de margem bruta quando a companhia anunciar o resultado do quarto trimestre, daqui a um mês.
“No entanto, o GPA deve começar a mostrar margens maiores com vendas nas mesmas lojas acima de 8%, com a diluição de custos de vendas e administrativos levando a níveis de EBITDA mais altos.” Ele vê um ponto de entrada na ação em fevereiro, e um cenário bem melhor para a companhia ao longo do ano.