O K10 — um fundo da Kapitalo com R$ 12 bilhões em ativos — está comprado em petróleo, aplicado em juros nos mercados desenvolvidos e apostando numa reprecificação do Brasil, que deve se expressar principalmente numa valorização da Bolsa.

As três apostas são as maiores convicções do fundo, que tem performado entre os melhores da indústria de multimercados desde que foi criado em 2018. 

De lá para cá, o fundo retornou 89% (já líquido das taxas), mais que o dobro do CDI do período (42%).

boopo bruno cordeiroAté pouco tempo, “a gente tinha a crença de que, para resolver a inflação nos EUA, ia ser preciso o hard landing, gerar recessão para controlar,” o CIO Bruno Cordeiro disse ao Brazil Journal.

“Agora, estamos vendo uma atividade mais resiliente e uma inflação mais benigna. Não é que mudamos de ideia, mas estamos reconhecendo que os dados estão apontando para um cenário mais benigno.”

No mercado de juros, o K10 está com posições ‘aplicadas’ e de ‘inclinação’ em mercados como Nova Zelândia, EUA e Canadá, além de uma posição só de ‘inclinação’ no Reino Unido. (As posições ‘aplicadas’ apostam na queda da curva de juros, enquanto as posições de ‘inclinação’ apostam que a parte média da curva vai cair mais que a longa). 

O K10 nasceu dentro da Kapitalo em 2017 como uma das estratégias do fundo flagship da casa, o Zeta, que atua como um fundo multigestor no estilo do Millenium, o hedge fund inglês.

Mas a estratégia já existe há mais de 10 anos e é fruto da experiência de Bruno na Lentikia, uma gestora de Londres comprada pela asset do BTG Pactual em 2009. Na Lentikia, que tinha apenas um fundo com uma estratégia parecida com a do K10, Bruno era o responsável pelo book de commodities

Depois da venda, ele se tornou sócio do BTG e passou a atuar na mesa proprietária do banco, onde operou commodities, juros e moedas por cinco anos. 

Na Kapitalo, o K10 passou só um ano como uma estratégia do Zeta antes de se tornar um fundo independente. Hoje, a família K10 — que inclui também um fundo de previdência com estratégia idêntica — tem R$ 12 bilhões em ativos sob gestão, R$ 2 bi vindo do Zeta e o restante de captação própria. 

O fundo é o segundo maior da Kapitalo, atrás apenas do Zeta, que tem R$ 17 bi em ativos.

A estratégia do K10 é operar o macro com uma estratégia top-down em diversos países e mercados, e operar commodities com uma visão bottom-up. “Usamos mercados de juros, bolsa e moeda para implementar a nossa visão macro daquele país e às vezes a visão setorial. Mas tomamos muito pouco risco idiossincrático das companhias,” disse ele.

A gestora toma posições apenas em mercados líquidos e opera ‘pró momentum’. “Se a Bolsa subir 30% e a gente pegar 18%, 20% do movimento, pra gente já é excelente, porque pegamos com maior convicção,” disse Bruno.

Os benchmarks do K10 são gestoras de fundos de global macro como a Tudor e a Caxton, além do book individual de Stanley Druckenmiller, que também opera pró-momentum.

Em seu book de hoje, o K10 está comprado em petróleo e vendido em grãos como milho, soja e café. No petróleo, a tese é simples: a gestora estima um déficit de 1 milhão a 1,5 milhão de barris por dia no segundo semestre, já que a oferta deve cair (com a Arábia Saudita cortando a produção, por exemplo) enquanto a demanda deve se manter firme. 

Em grãos, o cenário é oposto. A gestora estima uma safra forte para os próximos meses, o que deve jogar os preços para baixo. “Nosso maior short em grãos é o milho, e acreditamos que o preço de equilíbrio é uns 10% a 20% menor do que está hoje,” disse Bruno. 

O K10 também tem um ‘long/short’ em ouro e paládio. 

Enquanto o ouro deve se beneficiar de uma compra cada vez maior dos bancos centrais asiáticos e do Leste Europeu (que tem buscado diversificar suas reservas), a demanda por paládio deve cair já que o metal é usado principalmente na fabricação de carros a combustão. 

Recentemente, a gestora também montou uma posição vendida em minério de ferro, apostando na fraqueza estrutural da China, especialmente no setor imobiliário. 

No Brasil, Bruno diz que o tático da Bolsa está “muito bom” e “deve continuar assim.” 

A gestora começou a alocar em Bolsa em maio, “quando percebemos que alguns fatores iam começar a ajudar,” disse o gestor. “O [Fernando] Haddad fez um esforço na parte fiscal, o Congresso teve boas reações a medidas ruins propostas pelo Governo e a parte técnica estava muito deprimida, com fundos sofrendo saques muitos grandes.”

Segundo ele, essa é uma aposta mais cíclica, de 3 a 6 meses. 

A alocação mais estrutural do fundo no Brasil é uma posição ‘aplicada’ nos juros reais e comprada em inflação implícita, “principalmente na barriga da curva.”

“Achamos que o preço [das NTN-Bs] está uma barbada. Teve players grandes que tiveram que vender e aproveitamos para montar posição,” disse ele.