O veredito do mercado em relação à proposta de fusão entre BRF e Marfrig foi um misto de porco com galinha.

Além de não achar o negócio “óbvio”, alguns investidores questionaram a lógica e a motivação dos dois lados.

Um investidor institucional cético com a transação caracterizou o negócio assim, numa conversa com o Brazil Journal:

“Isso parece coisa de banco de investimento.  Já vi isso muitas vezes e não tenho um bom pressentimento em relação a essa… Para mim, essa fusão sugere que o caminho para a desalavancagem da BRF estava mais difícil do que eles estimavam.

Você pega uma companhia que estava muito alavancada — e cujas características de retorno sobre o capital e volatilidade moderada implicam múltiplo alto — e junta com outra consideravelmente menos alavancada (mas com retorno e volatilidade do negócio que implicam em múltiplo baixo) e diz… ‘agora temos uma companhia de múltiplo alto e desalavancada’. O risco é de que, daqui a dois anos, você tenha justamente o contrário: a empresa volte a estar alavancada e com um múltiplo mais baixo.

Os problemas da BRF tem conserto.  É uma cadeia super longa, muito complexa… Agora, você pegar isso e juntar com uma indústria de ciclo muito mais curto e que demanda capital intensivo e dizer que isto tem sinergias?

Se a empresa estivesse rodando direitinho — ainda alavancada, mas rodando bem, com o management na ponta dos cascos — talvez a empresa pudesse dizer, “Ok, vamos fazer esta fusão e aprender sobre um outro mercado.”  Mas não é o caso aqui, e essa fusão vai tirar o foco da BRF em consertar as cag#$@% que foram feitas, porque isso demora anos.

Essa fusão junta uma ‘ex-companhia boa’ com uma ‘ex-companhia ruim’.  É a mesma coisa que juntar o Maksoud Plaza — que um dia já foi sinônimo de hotel — com o Motel 6, e dizer que está unindo o ‘charme’ do primeiro com a ‘conveniência’ do segundo…”

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Em alguma medida, essa visão parece ser compartilhada pelo mercado, onde as ações da BRF caem 3,8% e as da Marfrig sobem 2,7% no meio da tarde.

A visão de um analista veterano é de que a Marfrig tem mais a ganhar porque “mostrou que alguém vê nela um valor estratégico.”  

Dois participantes do mercado disseram que a forma como o negócio foi anunciado — um acordo em princípio a ser aprofundado por mais estudos — equivale a um balão de ensaio.  “Se o mercado reagir mal, eu não descartaria que a BRF não vá adiante com o negócio.”

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Um ganhador inconteste é o BNDES, que hoje é dono de 33% da Marfrig. Com a relação de troca, em que os acionistas de Marfrig ficarão com 15% da nova empresa, o BNDES ficará com cerca de 5% da empresa resultante — uma ação ainda mais líquida e de fácil desinvestimento.

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Um analista que acompanha o setor de proteínas há anos ilustrou a transação criando os seguintes diálogos cômicos:

“Vamos vender a QuickFood!”
“Sério? Para quem?”
“Marfrig”
“Por quê?”
“Ebitda negativo e foco na desalavancagem”
“Ok”

“Vamos vender nossa unidade de Várzea Grande!”
“Sério? Para quem?”
“Marfrig”
“Por quê?”
“Ebitda negativo e foco na desalavancagem”
“Ok”

“Anunciamos a fusão com Marfrig”
“Sério?? Por quê?”
“Recompramos tudo de novo e ainda reduzimos a alavancagem!” 
“… … Ok…”