Investidores têm se perguntado por que a ação da Motiva (ex-CCR) sobe 22% no ano.
Refletindo sobre o assunto, o BTG Pactual listou cinco motivos que ajudam a justificar esta performance, e que, segundo o analista Lucas Marquiori, sugerem que os ganhos podem se estender.
“A Motiva é vista como uma bond proxy e o mercado segue cético quanto a sua capacidade de gerar alfa para além da tendência da curva de juros. Mas acreditamos que a empresa tem cinco verticais de valor que podem evoluir e sustentar a performance do papel,” o time de Marquiori escreveu num relatório.
O primeiro ponto é a alocação de capital da companhia.
É claro que a natureza de longo prazo do setor de infraestrutura dificulta a avaliação da assertividade de alocação de uma empresa no curto prazo, mas a tomada de decisão em leilões recentes mostra uma tendência positiva, disse o BTG.
A Motiva conseguiu conquistar novas concessões em regiões de menor risco (São Paulo e Paraná); foi conservadora quando necessário (lances seguros em leilões de mobilidade urbana contra rivais chineses e locais); e ficou fora de leilões questionáveis, como o do Aeroporto de Congonhas (com alto risco de execução na fase de construção), disse o banco.
A segunda avenida de crescimento a ser explorada pela Motiva é a revisão de portfólio que o CEO Miguel Setas se comprometeu a fazer.
É verdade que o mercado secundário de concessões não é pujante no Brasil, notam os analistas, mas as relicitações recentemente feitas pelo governo podem ajudar a estimular M&As no setor.
No caso específico da Motiva — que agora tem Votorantim e Itaúsa entre seus acionistas e um novo management — o BTG vê o tema como prioritário para a gestão, e diz que há espaço para desinvestimentos em todos negócios da empresa, principalmente os aeroportos.
“Com o tempo, ficou claro que este é um setor que exige expertise de execução, institucional e comercial, diferente das rodovias e da mobilidade urbana.”
Marquiori acredita que o terceiro e mais visível gatilho de alta para a Motiva é a continuação do processo de recuperação da sua governança corporativa após o escândalo de corrupção em contratos com o DER-PR e o DNER.
Depois de mudanças profundas em cargos de liderança e da saída da Andrade Gutierrez da base acionária, a Mover — hoje com 15% de participação na Motiva — deve vender suas ações ao Bradesco.
Com isso a empresa ganha mais conselheiros independentes e terá, pela primeira vez na história, um bloco de controle em que a maioria dos acionistas não têm raízes no setor da construção, uma mudança importante aos olhos do BTG.
O quarto trampolim para as ações é o avanço da regulamentação do setor, que levou a um aumento dos leilões.
“Antes, um ano com 4 ou 5 leilões de concessões rodoviárias era visto como muito forte; hoje nos acostumamos a ter o dobro disso. Sabemos que quantidade não é qualidade e que o nível de competição cresceu, mas o número de projetos permite que as empresas sejam seletivas,” escreveram os analistas.
Para o BTG, o risco regulatório da própria Motiva diminuiu drasticamente nos últimos anos, já que a empresa não tem mais uma grande pendência judicial em aberto capaz de derrubar seu valor de mercado.
A prometida melhora na eficiência de custos da Motiva é o quinto pilar da tese do banco.
Dois anos após anunciar metas de corte de custos que colocariam a empresa entre as mais eficientes do mundo no setor, o management promete chegar lá ainda este ano, antes do prazo final de 2026.
O objetivo é reduzir o cash opex-to-revenues de 47% para 38%. A métrica ficou em 40% no primeiro tri.
“A empresa disse que quer alcançar a marca no fim deste ano. Dada a solidez do discurso, esperamos melhorias significativas no futuro e acreditamos que o mercado pensa da mesma forma,” disse o BTG.
O banco tem recomendação de compra para a ação e preço-alvo de R$ 17, um potencial de alta de 38% em relação ao fechamento de hoje, de R$ 12,34.
A Motiva vale R$ 25 bilhões na Bolsa e negocia a 10 vezes o lucro estimado para 2026.