O artesanato do interior do Brasil nunca foi tão valorizado pelas metrópoles.
Da Camicado à Osklen, passando pela IKEA, cada vez mais as grandes marcas buscam a originalidade e o impacto social do artesanato para enriquecer suas coleções com peças feitas em lugares como o Vale do Jequitinhonha, o interior da Bahia ou o Vale do Ribeira.
Por trás dessa redescoberta está a Artesol — uma das inúmeras iniciativas sociais criadas pela então primeira-dama Ruth Cardoso.
A ONG atua como uma ponte entre esses pequenos artesãos — tipicamente povos indígenas e famílias humildes da zona rural que muitas vezes têm dificuldade em viver só de sua arte — e as marcas e lojistas interessadas nesses produtos.
“Nos últimos anos, todo mundo quer trabalhar com artesanato, e temos tentado ajudar intermediando essas relações,” diz Sonia Quintella, a ex-CEO da Gucci no Brasil que lidera o projeto há seis anos.
Toda semana, a Artesol faz ‘rodadas de negócios’, reunindo cerca de 60 varejistas associados à sua rede com grupos de artesãos de mais de 300 microrregiões do País, que usam as rodadas para apresentar seus produtos.
Marcas como Tok&Stok, Etna e Magazine Luiza também buscam a Artesol para intermediar contratos de fornecimento maiores.
A Camicado, por exemplo, compra produtos de barro feitos no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A Osklen já criou coleções de bolsas e chapéus feitos por artesãos da Bahia especializados na técnica de trançado. E a Ikea compra peças de decoração feitas por um coletivo de mulheres do Vale do Ribeira que trabalham com a fibra de bananeira.
Na prática, a Artesol tem na mão um mapa do chamado “artesanato de raiz”, um universo de mais de 1 milhão de pessoas.
Além de fomentar os negócios, parte relevante do trabalho da Artesol é capacitar esses grupos de artesãos, que muitas vezes têm dificuldade de estruturar seu trabalho como um negócio de fato.
A capacitação passa pela formalização do grupo (como uma associação ou cooperativa, por exemplo), desenvolvimento da produção e cursos sobre temas variados: desde aulas de fotografia, filmagem e redes sociais até assuntos mais densos, como controle da produção, precificação de produtos, e gestão de custos.
“Até pouco tempo, quando você falava ‘artesanato’, isso era visto como uma coisa pobre, sem qualidade, mas o artesanato brasileiro é extremamente rico, e as pessoas finalmente estão começando a entender isso,” diz Sonia.
Segundo ela, de 2015 até hoje, a Artesol conseguiu aumentar em 47% a renda média dos artesãos com os quais trabalha.
Para levantar recursos para seus projetos permanentes, a Artesol realiza todo ano um leilão de artesanato e arte popular, que geralmente financia 40% do orçamento da ONG. Outra parte é bancada pelo grupo Iguatemi, o mantenedor da instituição, e o restante por projetos específicos patrocinados por empresas como Vale e Casas Pernambucanas.
O leilão deste ano acontecerá dia 4 de novembro e será virtual — na plataforma Leilõesbr. Os interessados precisam se cadastrar no site antecipadamente, ou buscar mais informações neste link.