Fábio Giambiagi, um dos maiores especialistas em previdência do Brasil, está criando um hub de educação e assessoria sobre previdência privada — num momento em que o ambiente de juro real zero aumenta o desafio da aposentadoria.
Sua sócia na startup é Arlete Nese, uma executiva com 20 anos no mercado de investimentos e experiência prática na gestão do Banesprev, o fundo de pensão de R$ 24 bilhões do antigo Banespa.
Por enquanto, a Longevitá é um site com conteúdo sobre o assunto e cinco simuladores desenvolvidos por Giambiagi e sua sócia.
Mas os dois fundadores — que são coautores do livro “Fundamentos da Previdência Complementar” — ainda vão incluir novas funcionalidades, como cursos pagos sobre previdência privada (ministrados pelos dois e vendidos no B2C e B2B); uma API que permitirá a instituições financeiras colocar o simulador da Longevitá em seus sites mediante licença de uso; e um marketplace para vender os produtos de previdência disponíveis no mercado.
“Também vamos prestar consultoria sobre previdência para grandes gestores que querem colocar esse produto na prateleira ou para planejadores financeiros,” diz Arlete, que também é professora de private equity e venture capital no Insper. “Existe uma legislação específica e complexa para esse segmento, e ele tem sido pouco aproveitado em termos de oportunidades de diversificação.”
No Brasil, o mercado de previdência privada tem quase R$ 2 trilhões em patrimônio, mas boa parte disso ainda está em títulos de curto prazo que dificilmente vão garantir o retorno necessário para arcar com as despesas no futuro.
A pedido do Brazil Journal, Giambiagi e Arlete listaram quatro pegadinhas que prejudicam a aposentadoria:
Iniciar a poupança tardiamente
A maior parte das pessoas no Brasil que investe em um plano de previdência privada faz um início tardio de poupança. Se uma pessoa com mais de 45 anos decide se preparar para a aposentadoria, significa que passou parte relevante da sua vida contributiva sem acumular uma reserva. Quanto mais cedo a pessoa acordar para a necessidade de poupar para a aposentadoria, maior será a perspectiva de rendimentos.
Não saber os custos envolvidos na administração do plano
Entre as modalidades de previdência complementar oferecidas, estão o Plano Gerador de Benefício livre (PGBL) e a Vida Gerador de Benefício livre (VGBL). Ambos se diferenciam das demais aplicações pelas vantagens fiscais que possuem. Mas caso o interessado não fique atento, este benefício pode ser corroído por altas taxas de carregamento e administração. Para administrar qualquer quantia de dinheiro, os bancos ou instituições financeira podem cobrar variadas taxas.
É bastante comum o entendimento que um investimento de R$1.000 mensais para a formação de uma reserva (com juros reais nulos ) por 20 anos ( dos 45 aos 65 anos), irá gerar, para os próximos 20 anos ( dos 65 aos 85), uma renda mensal complementar de R$ 1.000, considerando o período de acumulação e de saques idêntico. O raciocínio, por óbvio, não se sustenta. Na fase de saques, a renda mensal deste indivíduo seria de apenas R$ 750 (25 % a menos, considerando uma inflação de 3 % a.a.)
A pegadinha dos juros elevados
No “país do faz de conta dos juros elevados”, os “juros reais de 6 % ao ano” faziam a renda complementar praticamente triplicar. Já com juros de 3 %, parecidos com as taxas atuais, a renda irá cair. A matemática financeira é cruel: com ela, não tem ‘jeitinho’, nem favor fiscal. Na prática, com juros reais de 6 % a.a.,a acumulação de R$ 1.000 mensais, a partir dos 45 anos, representaria uma renda mensal complementar, a partir dos 65 anos, de R$ 2.019/mês, por um período de 20 anos. Essa renda, porém, cai para R$ 1.050 por mês, se a taxa de juros real ceder para 2 % a.a., como a verificada recentemente no país.
Com juros mais baixos: a pessoa terá que poupar mais mensalmente; contribuir por um tempo mais longo; ou, terá uma renda menor na aposentadoria.
Não saber qual plano é o mais adequado
Não será uma rápida análise com o gerente do banco ou o assessor de investimentos que ajudará o interessado a tomar a decisão do benefício desejado para a fase da aposentadoria. O PGBL, por exemplo é mais adequado para aqueles que têm renda tributável e declaram o Imposto de Renda no formulário completo, pois permite dedução das contribuições até 12% da renda bruta anual. Já o VGBL é recomendado para quem declara a o IR no formulário simplificado. Porém, tanto no PGBL como no VGBL a escolha do tipo de tributação é outra questão que precisa ser decidida no momento da contratação. No regime regressivo, quanto maior o prazo de acumulação das contribuições, menor a alíquota de IR, chegando ao mínimo de 10% para prazo superior a dez anos. Já no progressivo, quanto menor for a faixa de renda, menor será a alíquota do imposto de renda, podendo até ser isento do tributo.
Os operadores de previdência, tanto da aberta como da fechada, vêm apresentando evoluções nos processos e na adesão a códigos de autorregulação. E os órgãos de regulação e supervisão também vêm aperfeiçoando as regras de fiscalização, o que eleva a capacidade dos operadores de previdência de oferecerem planos realmente atrativos e com a segurança necessária. Entretanto, é preciso comparar cuidadosamente os diferentes planos e as vantagens oferecidas pelos operadores de sistemas. O melhor caminho é a informação prévia.