Murray era tido como um jogador talentoso, extremamente dedicado, com uma visão de jogo muito acima da média, mas também como um tenista que reclamava demais, chorava demais e fraquejava nos momentos decisivos. Vencia torneios, mas nunca os maiores. Jogava de igual para igual com os líderes do ranking, mas raramente os vencia em jogos decisivos.
Em julho de 2012 ele chegou à final de Wimbledon, sua quarta em um torneio do Grand Slam. Diante de uma torcida apaixonada, que havia 74 anos não comemorava o título de um britânico, Murray ganhou o primeiro set. Mas não resistiu a Federer e à pressão psicológica e perdeu de virada por 3 sets a 1. Durante a cerimônia de premiação, chorou muito e prometeu voltar no ano seguinte.
Pouco depois, em agosto, Murray bateu o mesmo Federer na mesma grama de Wimbledon para conquistar sua primeira medalha olímpica de ouro (ganharia a segunda no Rio, em 2016). Passado mais um mês, o escocês conquistou seu primeiro Grand Slam, o US Open. Os adversários já o respeitavam. A crítica começava a ver nele um rival mais perto dos três grandes. Mas ainda faltava alguma coisa.
Em julho de 2013 Murray cumpriu a promessa e voltou a Wimbledon. Chegou mais uma vez na final e não faltaram comentários duvidosos sobre suas chances diante de Novak Djokovic. Nem piadas. Diziam que Murray era escocês quando perdia, mas seria um grande britânico se conquistasse o título. Dessa vez Murray ganhou Wimbledon. Tornou-se ídolo no Reino Unido da Grã Bretanha e passou a fazer parte do que ficou conhecido como “Big Four”, o grupo formado por ele, Federer, Nadal e Djokovic.
Na quinta-feira passada, esse mundo de conquistas e glórias parece ter ruído de vez para o britânico. Aos 31 anos, Sir Andrew Murray — ele foi condecorado pela rainha em 2016 — disse que não sabe se voltará a jogar em Wimbledon. Com um quadril desgastado, fruto da dedicação intensa durante 13 anos de profissionalismo, Murray não consegue mais jogar. Depois de chegar ao topo do ranking no fim de 2016, o britânico passou a sentir dores fortes no quadril, mesmo problema que tirou Gustavo Kuerten das quadras. Submeteu-se a algumas cirurgias, diversos tratamentos e nada resolveu. Ensaiou alguns retornos, o último deles em Brisbane, na Austrália, há poucas semanas. Comemorou como um juvenil em início de carreira a vitória na primeira rodada sobre o pouco expressivo australiano James Duckworth, mas caiu logo em seguida.
Ao anunciar a aposentadoria, Murray interrompeu algumas vezes a entrevista coletiva para abaixar a cabeça e chorar atrás de um boné diante de câmeras de fotógrafos e cinegrafistas de todo o mundo. Triste e desnorteado, saiu da sala de imprensa, para depois voltar. Disse que gostaria de dar adeus às quadras em Wimbledon, torneio que voltou a ganhar em 2016, mas que não pode garantir. E que o Australian Open que começa na segunda-feira pode ser seu último torneio. “Sinto dores muito fortes há uns 20 meses. Venho lutando contra isso, fiz tudo o que era possível, mas não ajudou muito. Até consigo jogar, mas em um nível em que não me sinto feliz.”
Ao conseguir o feito improvável de se juntar a Federer, Nadal e Djokovic na elite do tênis, Murray fez história e também fortuna. Apenas em prêmios, faturou US$ 61 milhões na carreira. Somando-se contratos de patrocínio, cachês para participar de torneios, jogos de exibição e eventos promocionais, calcula-se que o escocês nascido em Dunblane tenha faturado aproximadamente US$ 200 milhões.
Mesmo contundido, na 230ª posição do ranking, Murray continuava atraindo patrocinadores. No fim do ano, trocou a Under Armour pela Castore, uma startup britânica que vem sendo apontada como uma promessa no setor. “A imagem do Murray é muito forte e associar uma marca a ele traz muito valor. Principalmente na Grã Bretanha”, diz Torres.
O estilo de jogo de Murray não impressiona. Não tem a força de Nadal, a beleza plástica dos golpes de Federer nem a precisão de Djokovic, mas era eficiente como poucos.
Marcelo Onaga é jornalista e consultor de empresas na área de comunicação.