Quando se diz que ninguém está a salvo da disruption da tecnologia, é ninguém mesmo — nem o futebol na TV.
A Amazon acaba de levar os direitos para transmitir um pacote de jogos da Premier League no Reino Unido e na Irlanda, entrando de vez em rota de colisão com as empresas de TV por assinatura.
O movimento ainda é incipiente: a empresa de Jeff Bezos comprou o direito de exibir um pacote de 20 jogos por ano — a maior parte em dias de semana — por um valor não revelado. A Sky e a British Telecom já tinham ficado com o filé da transmissão do campeonato para o período de 2019 e 2022, e o ‘lote’ que a Amazon levou estava meio micado.
Mas a Amazon é conhecida por entrar gradualmente em novos segmentos — e o movimento de hoje é sintomático. A liga inglesa é uma das mais tradicionais e ricas do mundo. Graças em boa parte aos direitos de transmissão caríssimos, os times são arquimilionários e boa parte dos jogadores mais caros do mundo jogam ali.
As empresas de tecnologia estão cada vez mais entrando na transmissão ao vivo de esportes — uma das poucas razões que ainda leva boa parte dos assinantes a pagar pelo pacote da TV a cabo.
No ano passado, a Amazon já transmitiu 10 jogos da NFL nas quintas-feiras à noite, que costumam concentrar as partidas menos concorridas. O contrato foi renovado por mais dois anos, somando US$ 130 milhões no total. Neste ano, ela venceu a Sky para transmitir de forma exclusiva partidas de tênis masculino no Reino Unido, num negócio de US$ 40 milhões.
O Facebook também está testando o mercado, apostado nos esportes como uma forma de manter os usuários mais conectados a sua plataforma Facebook Watch. No ano passado, a empresa transmitiu alguns jogos de futebol nos Estados Unidos e, no começo deste ano, fechou um contrato exclusivo para transmitir 25 jogos da Major League de Baseball.
A esta altura, os donos de mídia tradicional têm que estar se perguntando: e se a Amazon começar a cobiçar os direitos de Copa do Mundo e das Olimpíadas? E se o Facebook entrar no jogo? E o Google?
A ‘velha mídia’ está se mexendo. A Disney, que controla a ESPN, deve adicionar 22 esportes regionais à sua plataforma com a compra da Fox, e acabou de lançar a ESPN+, uma plataforma de streaming pela Internet por apenas US$ 5 por mês.
Se a concorrência é ruim para as empresas de TV a cabo, ela é uma festa para as ligas de esporte. Há pouco mais de um mês, a ESPN+ fechou um contrato por parte dos direitos de transmissão do UFC por US$ 150 milhões, segundo a Bloomberg. O valor é superior ao que a Fox pagava pela transmissão integral do campeonato, no contrato que vence no fim deste ano.
Será esta a última Copa que o mundo verá num aparelho de televisão?