Em meados de 2019, Marcos Amaro participava de um jantar de uma galeria de arte nos EUA quando deu de cara com o CEO da NetJets — a maior empresa de fractional ownership do mundo e investida de Warren Buffett.
Marcos, um dos herdeiros do fundador da TAM, Rolim Amaro, perguntou como quem não quer nada: ‘Vocês pensam em entrar no Brasil?’
Quando Adam Johnson disse que não, Marcos abriu um sorriso de orelha a orelha.
“Foi nesse momento que eu tomei a decisão de entrar nesse negócio,” Marcos disse ao Brazil Journal.
Um ano e meio depois, Marcos e o ex-CEO da TAM, David Barioni, acabam de criar a Amaro Aviation, uma empresa de aviação executiva que quer ser a ‘NetJets brasileira’.
A Amaro começa a operar com dois negócios: a propriedade fracionada de aeronaves, na qual várias pessoas compram cotas de um avião e dividem seu uso; e a gestão de frota, que envolve desde a contratação e treinamento dos pilotos até a manutenção do avião — e planeja lançar um serviço de táxi aéreo em meados do ano, um mercado hoje dominado pela ICON Aviation de Michael Klein.
Barioni, um ex-piloto que fundou a GOL no início dos anos 2000 e comandou a TAM de 2007 a 2009, diz que o crescimento da economia compartilhada somado ao potencial ainda inexplorado da aviação executiva no Brasil é uma combinação virtuosa para a nova empresa.
A aviação comercial só consegue operar em 122 dos 4.100 aeroportos brasileiros. Já a aviação de negócios pode atingir 3.500 aeroportos.
“O homem de negócios é o principal eixo de um país capitalista, e ele tem que ir em lugares onde a aviação comercial não chega,” disse Barioni. “O Brasil precisa urgentemente de uma aviação executiva bem desenvolvida.”
A Amaro começa a funcionar com uma frota de cinco aeronaves e um helicóptero — herdados da CFly, uma empresa de gestão que foi incorporada pela empresa — e já importou outras duas aeronaves no modelo de ‘fractional ownership’, que devem chegar em março. Os modelos escolhidos: o PC-12 e o PC-24, da Pilatus. (A CFly continua existindo independentemente como broker de aeronaves e é sócia minoritária do Aeroporto Catarina, da JHSF.)
A Amaro vai permitir que de quatro a oito pessoas compartilhem a propriedade de uma aeronave. A cota de um PC-12 (compartilhado por oito pessoas) sai por cerca de US$ 700 mil; a do PC-24, por volta de US$ 1,8 milhão.
Os donos das aeronaves poderão alugá-las no serviço de táxi aéreo — abatendo parte dos gastos mensais.
A Amaro é o mais recente investimento de Marcos, o caçula do comandante Rolim. Depois de vender sua participação na TAM entre 2009 e 2012, Marcos se tornou investidor dos mercados de arte e imobiliário.
Segundo Barioni, o modelo de ‘fractional ownership’ — hoje explorado por empresas como a Avantto, mais focada em helicópteros — nunca deslanchou realmente no Brasil porque a regulação ainda responsabiliza civil e criminalmente todos os cotistas caso algum deles cometa uma contravenção.
Uma norma da ANAC que deve ser aprovada nas próximas semanas vai mudar isso, permitindo que o operador de ‘fractional’ (empresas como a Amaro) fique responsável por 100% da operação, incluindo a responsabilidade criminal.
Para garantir o desenvolvimento do mercado, a Amaro também vai usar seu caixa para recomprar as cotas de seus clientes, criando um mercado secundário para os proprietários.
A possibilidade de liquidez para o cotista foi o que ajudou a NetJets a se transformar na maior companhia de aviação privada do mundo. Detalhe: sem ter nem um avião no balanço.
Foto: Pilatus Aircraft Ltd.