A Alpargatas ainda pode ser vendida para o consórcio Cambuhy/Itaúsa. Os dois investidores e Wesley Batista ainda estão conversando, apesar do vencimento do prazo de exclusividade.
Segundo pessoas próximas à negociação, a versão de que as partes teriam esbarrado numa questão de preço não conta toda a estória.
Segundo as fontes, o nível de complexidade da operação é inédito, e agravado pelo fato da J&F Investimentos estar conduzindo duas outras vendas simultaneamente — a da Eldorado Celulose e da Vigor Alimentos — ambas cercadas de intenso escrutínio público.
Assim, qualquer concessão feita numa operação pode enfraquecer o vendedor em outra, e os Batista estão, mais do que cientes, sensíveis a respeito da importância de uma narrativa que projete força.
Para a J&F, a narrativa é de que este é um negócio simples, que todo mundo deseja, e que os Batista só vendem no preço que pediram.
Mas conversas com pessoas dentro e fora da negociação sugerem que o buraco é mais embaixo.
“Pelas condições do vendedor, este não é um ativo fácil,” diz uma pessoa que acompanha de perto as conversas. “Não é como a Unilever vendendo uma de suas divisões.” Como reportamos com exclusividade à época, a Caixa financiou 100% da compra em termos mui amigos. Geddel Vieira Lima, que fez o lobby pela liberação do empréstimo, está preso.
Como em toda negociação deste tipo, as conversas podem acabar abruptamente — ou produzir um acordo mais cedo do que se imagina.
“Há incerteza jurídica sobre este grupo poder vender ativos livre e isento de qualquer responsabilidade,” diz um advogado que não participa da operação, falando em tese. “Um dos procuradores do MPF não quis assinar a leniência e disse que vai tocar o pau. Por uma questão reputacional, a Cambuhy deve estar pegando isso com luva de pelica.”
Uma fonte próxima ao negócio diz que a operação só vai sair “com a ciência e o OK do Ministério Público.”
Na Bolsa, os comprados em Alpargatas torcem pela dupla, que “daria um upgrade maravilhoso na governança da empresa,” nas palavras de um gestor.