Depois de dois anos de resultados pressionados por seus altos investimentos, o Agibank está voltando a entregar um ROE próximo de sua média histórica.
O banco digital focado em consignado para a baixa renda fechou o terceiro tri com o maior lucro líquido trimestral de sua história: os R$ 137 milhões equivalem a um ROE de 26,2% — 21 pontos percentuais acima do mesmo período do ano passado e 8,6 pontos acima do segundo tri deste ano.
O CEO Glauber Correa disse ao Brazil Journal que o resultado tem a ver com a maturação dos altos investimentos que o banco fez em 2021, depois de receber um aporte de R$ 400 milhões da Vinci Partners.
De lá para cá, o banco controlado por Marciano Testa saiu de uma carteira de crédito consignado de R$ 2,2 bilhões para mais de R$ 10 bilhões, enquanto a carteira de crédito pessoal foi de R$ 1 bi para R$ 2,9 bi. Só em 2021 o Agibank abriu mais de 200 lojas para apoiar uma base de clientes que, em 99% dos casos, precisa de ajuda para entrar no mundo digital.
Por conta desses investimentos pesados, o Agibank teve um prejuízo de R$ 30 milhões em 2021. No ano passado, o resultado melhorou, com um ROE próximo de 10%, e agora o banco (finalmente) voltou a rodar na normalidade.
O Agibank fez uma receita de R$ 1,33 bilhão no tri, quase tudo vindo da intermediação financeira (R$ 1,23 bi), e o restante, de seu negócio de seguros e das tarifas bancárias.
Diferente da maioria dos bancos, o Agibank tem conseguido reduzir sua inadimplência ao mesmo tempo em que cresce sua carteira de crédito num ritmo superior ao do mercado.
O NPL de 90 dias foi de 5,5% no trimestre, em comparação aos 6,1% do mesmo tri do ano passado e aos 5,7% do segundo tri deste ano.
Já a carteira de crédito cresceu 12,7% na comparação sequencial para R$ 14,1 bilhões, 3x o crescimento do mercado bancário no mesmo período.
Segundo o CEO, isso foi possível porque, já na virada de 2020 para 2021, “entendemos que o mercado de crédito para PF livre ia ter uma virada grande na inadimplência. Então começamos a dar mais relevância para o consignado e a trabalhar de forma mais conservadora nas operações de crédito pessoal.”
“Qualquer sinal amarelo que surgia já agíamos rápido na base. E fizemos isso com quase um ano de antecedência do mercado,” disse ele.
O CEO disse ainda que a empresa foi bem conservadora no funding — travando com hedge o portfólio de passivos, o que permitiu não sentir tanto o impacto da alta dos juros — e nas despesas, que ficaram controladas mesmo com o crescimento da base e da carteira de crédito.
“Temos feito um esforço contínuo para melhorar nossa eficiência. A receita tem sido crescente, mas nosso opex tem se mantido flat há quase 3 anos,” disse o CFO Thiago Souza. “Nosso custo de nuvem, por exemplo, cresceu só 3% nesse período, enquanto a quantidade de transações triplicou.”
O índice de eficiência do Agibank – que mostra o quanto a empresa precisa gastar para fazer uma determinada receita – caiu quase 10 pontos percentuais no último ano, passando de 64,5% no terceiro tri do ano passado para 55,8% agora.
Um dos diferenciais do Agibank é que ele tem focado num público que é secundário para os bancões e completamente esquecido pelos ‘neo banks’: os aposentados do INSS que recebem até três salários mínimos. Para se ter uma ideia, 70% da base de 2,5 milhões de clientes recebe só um salário mínimo.
Por focar 100% nesse público, o Agibank consegue dar um atendimento e uma experiência diferenciada para eles, conquistando a principalidade desses clientes.
O plano é continuar crescendo com esse perfil de cliente — existem quase 40 milhões de aposentados do INSS no Brasil — mas entrar também em outros estratos da baixa renda.
Segundo Glauber, o Agibank quer começar a penetrar mais nos clientes de baixa renda do segmento privado, o que aumentaria o mercado endereçável do banco em cerca de 37 milhões de potenciais clientes.
O plano do Agibank é dobrar o número de lojas até 2030, passando das 900 de hoje para 2.000, com foco em cidades menores. Até lá, o banco quer continuar crescendo sua carteira de crédito pelo menos 30% ao ano e operar com um ROE de pelo menos 20%.
Glauber disse que o cliente de baixa renda têm um risco maior de inadimplência quando comparado com o cliente de classe média e alta no mesmo produto.
“Tem que ter um diferencial muito grande na modelagem para acertar bem o valor e o produto que você vai entregar para eles. Acertando isso, o risco é igual,” disse o CEO. “Nossa parte de data science é diferente também. Enquanto a maioria dos bancos tem três fases para a modelagem de crédito — big data, o data science e o modelo preditivo — a gente desenvolveu uma quarta, que é o que chamamos de ‘vacina’. Sabemos por alguns sinais, como trocar a chave PIX e ligar na central de atendimento, que tem algo errado, e com base nisso agimos na hora.”