Faltando horas para o BNDES decidir para quem vende suas ações da AES Tietê, os dois campos estão trabalhando nos bastidores para influenciar a decisão do banco.

O conselho do banco se reúne amanhã ao meio-dia para deliberar sobre o assunto.

Uma das questões centrais é a liquidez que cada proposta dá ao BNDES.

A oferta da Eneva é 90% em ações e 10% em dinheiro, enquanto a da AES é 65% em dinheiro — o que parece ir ao encontro do interesse mais imediato do banco.

“O BNDES está preocupado com liquidez, mas não faz tanta diferença [receber] R$ 200 milhões ou R$ 300 milhões a mais imediatamente,” rebate uma fonte próxima à Eneva. “O banco está pensando a longo prazo.”

Segundo esta fonte, a Eneva já se comprometeu a organizar um follow-on para o BNDES sair da posição se sua oferta for aceita.

Outro argumento da Eneva: a performance da ação da Tietê na sexta-feira, depois que circularam noticiais de que o BNDES estava inclinado a aceitar a proposta da AES. O papel caiu quase 10%.

“O BNDES pode estar pensando em vender 65% a R$ 17 [supostamente, a oferta da AES] e o resto a uns 10% abaixo disso, fazendo um preço médio de R$ 16,” diz a fonte no campo da Eneva. “Mas se e o banco vender para a AES, as ações caem vertiginosamente, e isso acaba prejudicando também a Eletrobras,”  que tem uma fatia na empresa.

Para o campo da Eneva, “assim como a proposta da Eneva foi o evento que mais gerou valor na história da AES Tietê, a recusa da oferta será o que mais vai destruir valor.”

Do outro lado da guerra, também há pushback.

Uma fonte diz que o BNDES “está focado em desinvestimento, não está mais no negócio de construir campeões nacionais. … As propostas são muito próximas em termos de valor, mas uma coloca quase 7 vezes mais dinheiro na mesa.”

Segundo essa fonte, o maior risco para o banco em aceitar a proposta da Eneva é o fato da AES Corp. ter demonstrado apetite para litigar o assunto, o que poderia deixar o BNDES preso na posição enquanto a briga se desenrola pela Justiça.

“O BNDES não tem vocação para briga societária. A Eneva topa entrar na briga porque essa transação cria muito valor para ela, mas o banco não tem esse mesmo incentivo.”